«Quase Famosos» consegue a proeza de filmar uma experiência pessoalíssima — a do jovem jornalista interpretado pelo magnífico Patrick Fugit —, ao mesmo tempo que nunca perde a noção do colectivo. Este é, de facto, um filme cujo intenso e delicado intimismo nunca exclui (antes pelo contrário) a dinâmica global de uma época (o começo dos anos 70) e da tensão interior dos seus valores.
Chama-se a isso, no seu sentido mais genuíno: melodrama. A saber: uma arte de filmar os comportamentos humanos, por um lado não os excluindo da história, por outro lado não abdicando de uma dimensão grandiosa (leia-se: simbólica) da própria ficção. O cinema clássico passou por aqui — Cameron Crowe é, aliás, na actual produção americana, um dos seus mais legítimos e mais brilhantes herdeiros.
Sugestão de trabalho: rever um Minnelli ou um Cukor, ou ainda alguns Wilder (Crowe, vem a propósito recordá-lo, é autor de um livro-entrevista com Billy Wilder).
Título original: Almost Famous Realizador: Cameron Crowe Intérpretes: Patrick Fugit, Billy Crudrup, Frances McDormand, Kate Hudson, Philip Seymour Hoffman EUA, 2000
[Crítica originalmente publicada no site Cinema2000, a 16 de Março de 2001]