Num domingo de língua portuguesa em diferentes cantos de Cannes, com a estreia de «O Agente Secreto» e projeção de «O Riso e a faca», um multi artista mexicano que fez da fantasia o seu gabinete de curiosidades passa pelo festival para uma palestra sobre os mistérios da criação nas telas: o realizador mexicano Guillermo Del Toro. Esta tarde, o artesão autoral vencedor do Leão de Ouro e do Óscar de Melhor Realização por «A Forma da Água» (2017) tem uma palestra com o maestro e compositor francês Alexandre Desplat, hoje a marca de maior ascensão do audiovisual quando o assunto são bandas sonoras. Os dois desenvolvem atualmente uma nova versão de «Frankenstein», com Jacob Elordi no papel do monstro criado na literatura por Mary Shelley (1797-1851). Oscar Isaac encarna o professor que dá vida a uma criatura feita de restos humanos e eletricidade. Estima-se que a fita vá abrir Veneza. Hoje com 60 anos, Del Toro só concorreu à Palma de Ouro uma vez, há 19 anos, com «O Labirinto do Fauno» [foto], mas esteve na Croisette antes, em 1993 com «Cronos», na Semana da Crítica. Volta agora com a proposta de falar de música. O que se espera dele, no entanto, é uma conversa sobre bestas.

“Cresci com fábulas em que pessoas excluídas, fora dos parâmetros da aceitação social imediata, passam por uma jornada de autodescoberta”, explicou Del Toro à METROPOLIS em entrevista no Festival de Marrakech, em Marrocos, quando «Frankenstein» já era uma aurora nos seus horizontes.

O seu último sucesso, «Pinóquio», vencedor do Óscar de Melhor Longa de Animação em 2023 e dirigido em duo com Mark Gustafson, também teve Desplat na equipa. Será um dos temas do eixo da conversa dele em Cannes. Ninguém deve abordar os seus fiascos nas conversas desta estância balnear. Del Toro naufragou nas bilheterias em 2021 com « Nightmare Alley – Beco das Almas Perdidas» [«O Beco do Pesadelo», no Brasil], um thriller noir que custou US$ 60 milhões para sair do papel e só faturou US$ 39 milhões. Apesar disso, ele deu a volta por cima, seguiu imponente (também como produtor) e manteve a sua origem – de Guadalajara – sempre no foco do seu olhar artístico.

Este sábado, ainda encantada pelo «Sirât» [foto], de Oliver Laxe, Cannes desfrutou com o lirismo de Richard Linklater no belíssimo «Nouvelle Vague», em que o realizador de «Boyhood» (2014) recria a génese da carreira de Jean-Luc Godard (1930-2022), na sua passagem de crítico a cineasta, de 1959 e 1960. Guillaume Marbeck interpreta o enfant terrible suíço.

Cannes termina no dia 24.

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