[Texto publicado originalmente no site Cinema2000, 20 de Novembro 2008]

Em «O Corpo da Mentira» o realizador Ridley Scott regressa ao que sabe fazer melhor – o cinema espectáculo, neste caso, de mãos dadas com a actualidade. Realização sem falhas com sequências de acção que levantam ondas dentro e fora do ecrã. Filme baseado no livro de David Ignatius sobre a vida dos operativos americanos infiltrados no Médio Oriente. Leonardo DiCaprio em modo type casting, mais uma vez conseguido, de «Diamante de Sangue» e «Entre Inimigos», mesclado na linha da frente do combate ao terrorismo, desgastado e corroído pela engrenagem da politica externa americana. Em segunda linha está Russell Crowe, num papel aceitável de espião burocrata, dirige as pessoas como peões, todos os meios são plausíveis para atingir os fins, um cinismo exacerbado que deixa o público a pensar nos limites deste conflito. Não é um desempenho intensivo mas entende-se que o trabalho é a sua família, graças a pequenos apontamentos das relações profissionais que se sobrepõem às familiares. Mark Strong é um actor britânico com muito estilo, tem a melhor interpretação do filme, personifica um homem de vícios caros, com um óptimo alfaiate, exímio estratega numa região volátil onde é preciso compreender as pessoas e a realidade para se alcançar o que parece inatingível, figura em forma de crítica implícita à política externa americana.

Cruzam-se os principais focos da guerra contra o terrorismo, a ideologia adversa, o digital face ao pombo-correio e as capitais do médio oriente com contrastes incongruentes. Veja-se no Dubai, a urbe economicamente mais desenvolvida daquela zona do mundo, mulheres de trajes negros, junto a uma piscina, partilham o espaço com ocidentais em biquínis brancos, imagens que cavam o fosso entre as civilizações. «O Corpo da Mentira» consegue manter-se distante da temática panfletária, prefere enviar postais ilustrados a excepção vai para o destino do protagonista, a escolha moral deste é em tudo idêntica ao cepticismo do mundo.

Da mesma forma que o espectador faz um close up dos acontecimentos, este é forçado a deixá-los em aberto numa “guerra silenciosa” sem fim à vista. Não é material elaborado a pensar em estatuetas mas é sólido, por vezes arrepiante, nunca perdendo o rumo às coordenadas do prisma real.

Título original: Body of Lies Realização: Ridley Scott Elenco: Leonardo DiCaprio, Russell Crowe, Mark Strong, Oscar Isaac Duração: 128 min. EUA, 2008

https://www.youtube.com/watch?v=5ImY89JTXoo
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