“Napoleão”, da Gradiva BD, é uma novela gráfica que relata a vida de um dos grandes génios militares da História. O livro tem um bom nível de detalhe histórico e qualidade de desenho. Este é o primeiro de três volumes dedicados a Napoleão da coleção “Eles Fizeram História”, da Gradiva BD. E a saber, já foram editados volumes dedicados a Lenine, Estaline, Mao Tsé-Tung e Churchill.
O argumento deste livro foi escrito por Noel Simsolo que se baseou no trabalho de investigação do historiador Jean Tulard. O desenho pertenceu ao napolitano Fabrizio Fiorentino, patenteando um arrojo das grandes campanhas militares e aquele sentido de viajarmos nos anais da História através da ilustração. As cores vivas advêm da colorista italiana Alessia Nocera que já tinha trabalhado noutros dois volumes desta coleção dedicados a Churchill. A arte deste livro tem imensa energia, Fabrizio Fiorentino desenhou para a Marvel e para a DC e os desenhos fazem lembrar bastante a dinâmica dos comics mais modernos.
Napoleão é uma figura histórica que continua a fascinar o mundo. Recentemente pudemos ver o filme de Ridley Scott e, no Festival de Cannes 2024 [um dos destaques da quinzena de João Lopes], assistimos à recuperação da primeira parte do clássico (com 3h40 minutos) do cinema mudo de 1927, realizado por Abel Gance… Algo que distingue esta novela gráfica é a progressão da cronologia em torno de Napoleão, algo que, por exemplo, passou compreensivelmente ao lado no filme de Ridley Scott.

O livro começa no cerco de Toulon, mas faz um flasback para as origens de Napoleão na Córsega (ele nasceu em 1769 em Ajaccio). É um período menos documentado da sua existência e os criadores tomaram algumas liberdades nesse período. Napoleão tornou-se um pária junto dos seus colegas no colégio militar quando ingressou aos dez anos. Mas ele compensou as humilhações com o estudo num trabalho com raiva e orgulho. As primeiras páginas deste livro acompanham a sua nostalgia pela Córsega.
Além das suas origens, o primeiro volume trata os acontecimentos da Revolução Francesa e as suas campanhas militares durante o Diretório. Napoleão é o herói de Toulon e torna-se “salvador” nas dores de parto da República (no 13 do vindemiário numa batalha ultra-violenta entre forças republicanas e manifestantes pró-democracia em Paris).
À medida que Napoleão ia vencendo as batalhas na campanha de Itália ia convencendo os militares mais cépticos e ao mesmo tempo criando um temor junto do Diretório que governava França. A campanha de Itália visava também a criação de uma percepção de glória junto da opinião pública assente na importância das suas vitórias e do seu génio militar através da disseminação dos feitos graças aos constantes comunicados da imprensa em dois jornais que ele ajudou a fundar. O início da relação com Josefina está também presente, mas ainda não é um fio narrativo dominante no primeiro volume desta trilogia da Gradiva BD.

A conquista do Egipto é um trecho que ocupa praticamente metade deste livro devido à sua importância militar, económica, científica e política. A campanha abre também um capítulo épico ao retirá-lo da Europa para as praças mais exóticas do Mediterrâneo na linha dos grandes conquistadores da História da Humanidade. É uma expedição que afastou Napoleão de França e do Diretório, mas que lhe deu carta branca para liderar à sua maneira e preparar o terreno para o regresso triunfal da expedição e a sua natural subida ao poder.
A obra termina com um belo dossier histórico do primeiro volume compilado por Jean Tulard – professor da Universidade de Paris-Sorbone, considerado um dos grandes especialistas sobre Napoleão. O making-of (no final do livro) revela as pistas na criação deste argumento e documenta as fontes e a cronologia do primeiro tomo.
“Napoleão” é um livro feito à medida dos amantes da História e da banda desenhada. Para os mais novos é também uma excelente introdução a esta figura impar da História da Humanidade.