“Mao Tsé-Tung” é o terceiro livro da série “Eles Fizeram História” que a METROPOLIS destaca na sua secção de BD. Após “Napoleão – Volume 1” e “Mussolini” que eram um pouco mais apologias destes líderes, “Mao Tsé-Tung” não tem contemplações perante a figura histórica que carrega em si um período trágico da China no século XX. O foco está na desconstrução do mito criado pelo próprio Mao e o gigantesco aparelho político chinês. A mudança dessa visão chegou em 1979 quando Deng Xiaoping denunciou a revolução cultural criada por Mao em 1966.

Os argumentistas desta obra, Jean-David Morvan, Frédérique Voulyzé e Jean-Luc Domenach (historiador), criaram uma narrativa muito intricada e que não deixa de ser extraordinária devido à falta de informação em relação a Mao, um indivíduo que controlava a informação (leia-se, manipulava a informação) com punho de ferro. Os autores utilizaram um dispositivo muito interessante no desenvolvimento da narrativa deste álbum através de uma figura incontestável: Deng Yingchao. A irmã Deng (como era apelidada afetivamente pelo povo chinês), era uma importante figura política do partido Comunista Chinês e a esposa de Zhou Enlai, um dos leais colegas de Mao que acompanhou a ascensão e o percurso político deste líder. A viúva de Zhou Enlai é a narradora desta história, num encontro com membros do partido no dia do funeral do seu marido. Inicia-se um relato sobre a juventude e as origens rurais de Mao, a ida para Pequim, o seu profundo conhecimento da política e a admiração pelos ideais marxistas, a guerra civil e a revolução comunista. O livro tem momentos cruciais, a relação de Mao com as mulheres, as suas esposas, a Grande Marcha que foi aclamada como um momento decisivo para o futuro da China quando, na realidade, foi uma tragédia. Na Grande Marcha partiram 100 mil pessoas que atravessaram 12 mil quilómetros a pé, sobre um relevo tortuoso, e chegaram ao destino menos de 10 mil pessoas. Deng Yingchao foi das poucas mulheres que sobreviveu à marcha. Anos mais tarde, quando o poder de Mao começa a ser colocado em causa, arranca uma purga aos intelectuais, aos seus críticos e rivais no partido comunista. Sob os auspícios da Revolução Cultural, Mao torna-se um dos grandes carniceiros do século XX. 45 milhões de pessoas padecem devido à fome numa tentativa da China se tornar uma potência económica mundial segundo as suas desastrosas políticas económicas: os camponeses são retirados dos campos para as fábricas, a produção de cereais baixa drasticamente e o desastre acontece. Mao mais do que um comunista era um oportunista. À excepção da consolidação, a pacificação da China, a abertura à Rússia, aos países em desenvolvimento e aos Estados Unidos, tudo o resto é um completo desastre e uma distorção da realidade em prol do mito. Os líderes chineses após a morte de Mao ajudaram a retificar a História e a expor as fraturas desta figura.

O álbum tem um trabalho belíssimo em termos visuais. Também encontramos imensa agilidade nos tempos narrativos que tornam o percurso histórico mais envolvente face a tantos factos e no contraponto entre a realidade e a ficção. Destaque, nas páginas finais do álbum, para o dossier histórico e making of da autoria do historiador Jean-Luc Domenach. Este livro que integra a magnífica compilação “Eles Fizeram História” da Gradiva BD, é mais uma grande entrada para esta didática e importante série no panorama nacional.

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