O mundo televisivo transmite a sensação de estar constantemente em revolução e reinvenção. Só muda o contexto. Os loucos anos 80 são reimaginados na nova série do Disney+, «Rivals», que se trata de uma adaptação da obra de Jilly Cooper.
Em terra de cordeiros, quem é lobo domina todas as atenções. Esta frase resume a estratégia de Tony Baddingham (David Tennant), que convence o promissor Declan O’Hara (Aidan Turner) a juntar-se ao seu projeto televisivo. Isto porque o jornalista sofre diretamente a censura social e política do local em que trabalha, com entrevistas em diferido, onde é “domado” para não fazer questões indesejáveis. Tony quer dar-lhe voz, mas, acima de tudo, quer rentabilizar a vertente de “espetáculo” e irreverência da comunicação.
Num negócio competitivo, Tony procura mostrar o seu valor, a qualquer custo, a fim de se conseguir afirmar. Com um argumento tenso e uma aposta visual bastante explícita, «Rivals» combina uma narrativa interessante com o fator-choque das séries mais ousadas. Ao mesmo tempo, apresenta uma componente de “novela”, com o drama associado à classe alta, às esposas descontentes e aos playboys irresponsáveis. Uma receita desenvolvida à medida de qualquer escândalo.
Com muita rivalidade, sedução, ambição e tensão à mistura, «Rivals» vai criando storylines com interesse, que vão deixando a audiência curiosa em relação ao que a espera nos episódios seguintes. Além disso, o triângulo Tony, Declan e Rupert Campbell-Black (Alex Hassell) sustenta um núcleo central forte, que se vai expandindo para as respetivas vidas profissionais e pessoais, com impactos de capacidade destrutiva. Em contrapartida, segundas linhas como Taggie (Bella Maclean), Lizzie Vereker (Katherine Parkinson) e Cameron Cook (Nafessa Williams) põem em voga o papel da mulher numa sociedade tendencialmente conservadora.
«Rivals» não só capta o espírito competitivo das personagens, como também faz uma crítica interessante acerca dos excessos e futilidade de uma sociedade obcecada pela procura de poder e estatuto social. Por outro lado, a série do Disney+ oferece uma recriação convincente da década de 80, desde o figurino à estética dos cenários, passando pela banda sonora. Sem surpresas ou twists totalmente inesperados, a trama é muito mais o caminho para chegar à meta, do que a meta propriamente dita.
Estamos a falar, acima de tudo, de uma história que apresenta um olhar perspicaz e descontraído (divertido, a espaços) sobre o lado obscuro da fama e as batalhas de ego que movem a alta sociedade. Além dos nomes já mencionados, o elenco conta ainda com Victoria Smurfit, Emily Atack, Lisa McGrillis, Luke Pasqualino, Bryony Hannah e Oliver Chris, entre outros.