Depois de ter levado Sylvester Stallone a uma transformação física de aumento de peso no fenomenal em «CopLand» (1997), James Mangold conseguiu reduzir um dos mais admirados super-heróis dos comics da Marvel, Wolverine, num arremedo trágico de si mesmo em «Logan», que, para muitos, é a obra-prima dramatúrgica da franquia “X-Men” nas telas. «Ford vs. Ferrari» (2019) mostrou a sua habilidade para tirar o mais apolíneo dos mitos do Olimpo. Diante de um histórico desses, não é de admirarmos que a relação do realizador com Indiana Jones fosse transformar radicalmente o personagem, mas – como tudo o que o diretor faz – sem perder a essência existencialista em «Indiana Jones e o Marcador do Destino». É o mesmo Indy de sempre, como antigamente, porém marcado por dores da História (e da sua história) numa aventura que é pura vertigem.

Passados 42 anos da estreia de «Os Salteadores da Arca Perdida» (1981), Harrison Ford, hoje um senhor de 80, ainda é capaz de emanar o mesmo carisma de outrora e contagiar as plateias com o seu charme de herói ao acaso. Ganhou até uma Palma Honorária pelo conjunto da sua carreira em Cannes, onde a nova saga do arqueólogo mais famoso da cultura pop fez a sua estreia global. É a primeira longa do personagem sem Steven Spielberg, porém James Mangold faz jus ao legado do antecessor – e que antecessor! – em sequências de ação de cair o queixo, doseando a violência para adequar a narrativa ao escopo de “Family Film” essencial à saga.

Assim como se viu em “Os Salteadores da Arca Perdida” e em «Indiana Jones e a Grande Cruzada», de 1989, os vilões de «Indiana Jones e o Marcador do Destino» são nazis. Um cientista formado pelo Reich, Jürgen Voller, interpretado por Mads Mikkelsen (de «A Caça»), é a encarnação do Mal aqui, sempre acompanhado de um capanga agressivo personificado por Boyd Holbrook, atual ator fetiche de Mangold, e o seu parceiro em «Logan». O objetivo de Voller é adquirir um artefato – uma espécie de bússola e ábaco – desenhado pelo geómetra Arquimedes que pode, supostamente, fazer o seu usuário voltar no tempo, encontrando uma fissura no cosmos. Um Indiana abandonado pela esposa (Karen Allen) e recém-aposentado dos seus compromissos com a universidade, é arrastado numa busca por essa peça pela sua afilhada, uma contrabandista (ou quase isso) interpetada por Phoebe Waller-Bridge (da série «Fleabag»). A sua personagem espalha bom humor em todo o filme, mas o pique da tensão da narrativa jamais cai. Temos risos, suspiros, mas é vertigem total, como se via no melhor de Spielberg.

Título Original: Indiana Jones and the Dial of Destiny Realização: James Mangold Elenco: Harrison Ford, Phoebe Waller-Bridge, Mads Mikkelsen, Boyd Holbrook, Karen Allen, Antonio Banderas, John Rhys-Davies, Toby Jones Duração: 154 min. EUA, 2023

[Texto publicado originalmente na Revista Metropolis nº95, Julho 2023]

https://www.youtube.com/watch?v=UZvV-Pken-4
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