A METROPOLIS teve acesso antecipado à minissérie «I Know This Much is True», que apresenta Mark Ruffalo em dose dupla e ao seu melhor nível. O primeiro episódio fica disponível na HBO Portugal dia 11 de maio.
Atravessando cinco décadas, de 1950 a 1991, «I Know This Much is True» traça uma história do passado norte-americano, a partir das vidas de dois irmãos gémeos: Dominick e Thomas Birdsey (Mark Ruffalo). Separados por apenas seis minutos, acabariam por nascer em anos diferentes: Thomas a 31 de dezembro de ’49 e Dominick a 1 de janeiro do ano seguinte; mas há muito mais que os separa: Thomas teve desde cedo uma vida difícil, que se agravou progressivamente e alterou para sempre a dinâmica familiar com o diagnóstico de esquizofrenia e outras doenças do foro psicológico.
A série avisa ao que vem com estrondo. No silêncio aparente de uma biblioteca, distingue-se a voz de Thomas, numa espécie de oração interminável – e impossível de calar. Perante a inquietação de uma cena muito bem construída, Thomas faz o sacrifício derradeiro: cortar a mão e, assim, tentar evitar que a Humanidade continue cercada de violência (como pano de fundo, a Guerra do Golfo, iniciada em 1990, sendo que o “fantasma” do Vietname também surge frequentemente). Acreditando ser o “Escolhido” de uma força maior, o irmão problemático de Dominick tem um ato violento e acaba internado numa instituição psiquiátrica e corretiva. Está encontrado o motor que guiará Dominick, o narrador, ao longo da minissérie: tirar o irmão de lá para um local mais tranquilo.
Baseada num livro com o mesmo nome, publicado por 1998 e da autoria de Wally Lamb, «I Know This Much is True» tem um estilo bastante literário e cuja tensão – muitas vezes potenciada pelo recurso às descrições – é substituída na tela pela banda sonora e pela narração de Dominick. Num estado de desassossego permanente, a audiência tem a perspetiva de Dom, enquanto a ação vai recuando estrategicamente ao passado para adensar a perceção que temos da família Birdsey, bem como do lado materno. O avô dos gémeos chegou aos EUA vindo de Itália e, num dos seus últimos desejos, a mãe (Melissa Leo) oferece o livro a Dom – a “epopeia” da vitória de um homem alegadamente humilde na terra dos sonhos. Estando em italiano, há uma demora inescapável provocada pela tradução, que fica a cabo da personagem interpretada por Juliette Lewis.
O reflexo negro de Thomas e do passado familiar espelha-se também em Dominick, que teve igualmente uma vida difícil. Contudo, ao fazer-se o comparativo, não é desde logo percetível o quão longe irá a narrativa. Embora o papel de narrador aproxime o espectador, também funciona como uma ilusão, já que – ao contrário do que poderíamos pensar – não estamos na posse de toda a informação que Dom sabe.
Uma das melhores séries de 2020 até ao momento, a minissérie ganha muito com a interpretação bem conseguida de Ruffalo, que assume dois papéis distintos e, cada um à sua maneira, muito complexos. No entanto, todo o elenco é de alto nível; além das atrizes já mencionadas, encontramos Kathryn Hahn, Archie Panjabi, Rosie O’Donnell, Rob Huebel, John Procaccino e Philip Ettinger, que dá vida aos jovens no fim da adolescência. Também Donnie e Rocco Masihi cumprem, próximo da perfeição, a versão dos protagonistas na infância. Trata-se da primeira série criada por Derek Cianfrance, responsável ainda pela realização dos seis episódios.
Antes de terminar, uma nota. Atendendo à intensidade da trama não se recomenda a tradicional maratona, agora uma tendência da vida seriólica. Com os episódios a saírem semanalmente, o ideal será assistir dessa forma, para “aliviar” a carga emocional.