Se há 10 anos atrás alguém dissesse que ao fim de meio século de história o Homem de Ferro se tornaria no mais popular super-herói do universo Marvel, o mais provável é que o incauto vidente fosse ridicularizado até à saciedade. A verdade é que fez em Março 50 anos que o incontornável Stan Lee, o incomparável Jack Kirby e ainda Larry Leiber e Don Heck deram ao mundo o herói dourado. De facto, durante a maior parte da sua história o Homem de Ferro e o seu alter-ego, o bilionário Tony Stark, nunca foram mais do que estrelas de 2ª grandeza no cada vez mais povoado universo Marvel. Menos popular que Homem-Aranha, Hulk, os Vingadores, X-Men e tantos outros, Homem de Ferro no entanto perseverou sobrevivendo ás narrativas por vezes bem medíocres criadas por argumentista de 2ª e 3ª divisão. Mas em 2008 tudo mudou, a Marvel Films decidiu pegar nesta desaproveitada personagem e dar-lhe uma dimensão cinematográfica à altura do seu potencial. O resultado foi o primeiro Iron Man, um completo sucesso artístico e financeiro que relançou de vez a era dos super-heróis no grande écran. Há 5 anos atrás a tecnologia digital já estava suficientemente madura para permitir uma série de sequências espectaculares capazes de empolgar até o espectador mais céptico e sisudo. Mas a tecnologia por si só não eram suficientes par criar uma nova estrela, e os produtores tiveram uma verdadeira epifania quando decidiram convidar Robert Downey Jr. para encarnar Tony Stark, o homem que é o Homem de Ferro. O sucesso global determinou a inevitável sequela, que á semelhança de tantas outras ficou algo aquém do filme original. Mas agora surge o 3º filme e algo parece ter mudado no rumo a dar á personagem e ao seu lugar no panteão Marvel.
Em «Homem de Ferro 3» reencontramos Tony Stark ainda abalado pelos acontecimentos da invasão alienígena descrita no filme «Os Vingadores», ele sofre de insónias e tem crises de pânico. Mas a sua fiel amiga e amante, Pepper Potts, que agora dirige as indústrias Stark, é a razão porque ele vive e que motiva o seu esforço de mudar os maus hábitos de uma vida. E são precisamente os erros do passado que estão na génese dos problemas que Stark tem que enfrentar nesta terceira aventura. Em 1999 Tony menosprezou um cientista rival preferindo abandonar-se a um incauto hedonismo, porém esse cientista criou um Think Tank científico, a AIM, que numa dúzia de anos desenvolveu uma terrível tecnologia capaz de recriar o genoma humano e assim dar origem a super-soldados capazes de destruição numa escala bíblica. Entretanto o mundo e especialmente os EUA estão a ser ameaçados por uma figura misteriosa conhecida por o Mandarim, cujos actos e planos fazem os grandes terroristas da actualidade parecerem meninos de coro. Stark desafia o Mandarim e em breve vê a sua existência ameaçada, a sua casa destruída e a mulher que ama nas garras do criminoso. Mas Stark conta com um amigo o coronel Rhodes, também conhecido como War Machine com quem vai tentar impedir que a América caia nas garras do Mandarim ao mesmo tempo que procura salvar Pepper. Uma vez mais o filme vive do talento, carisma e dinamismo de Downey Jr, que aqui aprofunda a sua química cinematográfica com Gwyneth Paltrow. As várias versões do argumento provavelmente amenizaram alguns dos aspectos mais interessantes da intriga, especialmente a relação da AIM com o Mandarim e assim o apoio encoberto de interesses políticos e económicos a grupos terroristas. Porém, no fim de tudo o filme é uma história de amor e redenção e muita destruição. Nota máxima para a pirotecnia digital, que até funciona bastante bem em 3D e também para a direcção de Shane Black que aqui se revela algo mais energético e musculado que Jon Favreau. Os fãs de super-heróis vão adorar, mas para dizer a verdade não há aqui nada de realmente de novo capaz de converter cépticos em relação aos heróis coloridos.
Título original: Iron Man Three Realização: Shane Black Elenco: Robert Downey Jr., Guy Pearce, Gwyneth Paltrow, Don Cheadle, Rebecca Hall, Jon Favreau, Ben Kingsley, Paul Bettany Duração: 130 min EUA, 2012
[Texto originalmente publicado na revista Metropolis nº8, Abril 2013]
https://www.youtube.com/watch?v=Ke1Y3P9D0Bc