Parece ter passado uma eternidade desde que Bong Joon-ho renovou o conceito de monster movie com «The Host – A Criatura», atribuindo-lhe a alegoria que há muito define esse subgénero. Basta recordar Godzilla — ou melhor, «Gojira» (Ishirō Honda, 1954) — que, antes de se tornar em kaiju pandemônico, fora metáfora materializada do medo da radioatividade e, por consequência, da bomba atómica cuja memória colectiva (fresca até) ainda pairava no Japão. Também os americanos transformaram os anos 50 numa galeria de criaturas nascidas da era nuclear. Mas, com o tempo, os monstros tornaram-se apenas monstros: ferais, desprovidos de crítica ou espaço interpretativo. «Death of a Unicorn» surge precisamente nessa linhagem achatada: um “monster movie” com unicórnios em CGI e pouco mais do que isso. O conceito resume-se ao próprio título. O filme reúne um elenco invejável para este tipo de produção, mas arrasta a sua duração em terreno seguro: fórmula destinada a espectadores menos exigentes. Dirigido por Alex Scharfman (na sua primeira longa-metragem), não arrisca nem experimenta: segue a cartilha, tropeça nos lugares-comuns e mostra impaciência em relação à acção e ao gore lúdico. Se a ideia de unicórnios sangrentos prometia um festim de violência, a verdade é que as criaturas, mal concebidas pela sua tecnologia imperfeita, não são verossímeis nem assustadoras, apenas cavalos com dentes, cavalos dados. Jenna Ortega, estrela absoluta para as novas gerações, divide protagonismo com Paul Rudd em versão… Paul Rudd, juntos enfrentam as criaturas num ambiente de cerco, colecionam-se mortes e, sem tino, tenta-se ainda justificar uma mitologia através de tapeçarias medievais. O resultado é pior que um soneto mal rimado: teria sido melhor abraçar a ignorância do mistério do que inventar explicações despropositadas. A sensação que resta é de bocejo, motivada por esta condição comatosa com que uma indústria, conhecedora de tradições e heranças, insiste em impor um filme sem conhecimento que o sustente. Pipoca para acompanhar, alguns risos tímidos aqui e ali e… voilà: esquecido ao primeiro instante. O divertimento, sozinho, não basta para justificar a existência de uma variação que se quer cara e notoriamente séria. Oxalá houvesse mais convicção no lúdico, mais prazer no ridículo de esfregar unicórnios com caninos.

Título original: Death of a Unicorn Realização: Alex Scharfman Elenco: Jenna Ortega, Paul Rudd, Richard E. Grant Duração: 107 min. País: EUA, 2025

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