Uma voz eterna, uma das mulheres mais marcantes do século XX… eis «Maria». Neste retrato biográfico da cantora de ópera greco-americana Maria Callas, o foco vai para os últimos dias da sua vida, em Paris, no ano de 1977, enquanto se relembra de momentos marcantes da sua vida e se debate consigo mesma.

A certo momento do filme, uma das personagens questiona a cantora: “Devo chamá-la Maria ou La Diva?”. Esta talvez também tenha sido a pergunta que Pablo Larraín tenha feito a si próprio quando abraçou o desafio de levar a vida de Callas ao grande ecrã. A resposta está no título do filme e reflete-se na forma como o cineasta retrata uma figura maior da Música. Larraín explora a luta de Maria e a relação simbiótica, ao longo da sua vida, com a sua voz, numa parte indissociável da sua identidade.

O cineasta chileno conclui, assim, a sua trilogia dedicada a figuras femininas marcantes do século XX, retratadas como mulheres fascinantes e perdidas em si mesmas. À semelhança dos dois filmes anteriores, «Jackie» (2016) e «Spencer» (2021), também «Maria» não é um biopic habitual – Larraín procura mais dissecar a essência da retratada do que propriamente fazer um retrato histórico rigoroso. Mais uma vez, o realizador deambula pela luta interior da protagonista, a partir de um argumento bem construído de Steven Knight.

Os filmes anteriores deram oportunidade às atrizes principais, Natalie Portman e Kristen Stewart, respetivamente, para interpretações memoráveis, ambas reconhecidas com nomeação para Óscar. «Maria» não é exceção. Angelina Jolie tem um dos melhores desempenhos da carreira, transformando possíveis vulnerabilidades em força (seja na forma como encarou o desafio de retratar a principal cantora de ópera do século XX, mas também como desenvolveu a composição da sua Maria, que nunca abandona o seu magnetismo). Jolie tem uma carreira longa, na qual experimentou vários géneros. Aqui, relembra o seu grande potencial para o drama, tal como já havia feito em «Vida Interrompida» (1999), «Um Coração Poderoso» (2007) e «A Troca» (2008). Embora a atriz tenha, claro, todo o foco na obra, o elenco secundário foi também escolhido com cuidado e oferece interpretações valorosas, com destaque para Pierfrancesco Favino, Alba Rohrwacher e Kodi Smit-McPhee.

O que é uma cantora sem o poder da sua voz? Mergulhar nesta premissa e explorar a luta interior de Maria é uma perspetiva sagaz e que resulta numa obra sólida, apoiada por um bom trabalho de fotografia de Edward Lachman, que contribui para o mistério que também está imbuído na própria personalidade de Maria Callas. E, no final do filme, são mais as perguntas do que as respostas, já que parece que, na verdade, apenas chegamos à superfície de quem era, verdadeiramente, Maria.

Título original: Maria Realização: Pablo Larraín Elenco: Angelina Jolie, Pierfrancesco Favino, Alba Rohrwacher, Kodi Smit-McPhee Duração: 134 min. País: Itália, Alemanha, Chile e EUA, 2024

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