Há um efeito zeitgeist que, por coincidência, mina o enredo político-conspiracionista de «Capitão América: Admirável Mundo Novo» [não, não existe referência a Aldous Huxley], destacando-o das restantes tentativas de colocar o MCU de volta nos carris após um desfecho repleto de epicidade e fan service nas alturas [«Os Vingadores: Endgame»]. Os fracassos, sejam criativos ou em desapontamentos nas bilheteiras (com excepção daquela manobra de controlo intitulada de «Deadpool & Wolverine»), acumulam-se, e como se percebe a desorientação do aparelho industrial por detrás destes filmes. Sem Chris Evans no papel que encaixou (ainda que não como uma luva), Anthony Mackie responde com exatidão ao desafio de calçar estes sapatos de defunto. Ele é o novo herói, a nova perspetiva para os Vingadores, agora sem a velha guarda — embora isso se resolva com universos paralelos e afins. Dele não há queixas; melhor que a encomenda, apresenta-nos um Capitão América mais fragilizado, humano e repleto de nuances cinzentas — algo que o anterior, na forma de um Deus yankee, nunca chegou a ser, apenas um panfleto da virtude americana, servido ao mundo sem espaço para questionamentos. O enredo, mesclando o thriller político dos anos 70 com «O Candidato da Manchúria» (John Frankenheimer, 1962), novamente a empurrar-nos goela abaixo, e um ou dois truques detetivescos como também a presença de Harrison Ford, também ele em tarefa de substituição, a revisitar territórios que Wolfgang Petersen já lhe tinha reservado antes, elevam o objeto acima do mero “episódio da semana”. Pertinentemente é a América pronta para um Novo Mundo, algo evidente para quem sintoniza o noticiário, mas naturalmente, a Disney não tem maturidade para dialogar com politiquices — «A Guerra Civil» foi a sua a sua prova definitiva de infantilização, repleta de incongruências geopolíticas e de bastidores que nos encaminham a favor dos discursos com ímpetos e tom apocalípticos provenientes de Alan Moore e a influência destes universos no panorama político atual. Mas voltando ao filme e o paralelismo com a nossa realidade, vemos um mundo de acordos comerciais, onde os EUA apertam a mão a Israel sob a forma de um agente disfarçado (força de apoio, leia-se nas entrelinhas), onde o Presidente se torna numa ameaça para a Humanidade (não é spoiler — cuspimos na cultura do spoiler, e os trailers já denunciavam a chegada do Red Hulk como vilão da vez), e onde uma Nova Ordem Mundial deseja ser instaurada nem seja como um conceito de uma nova era histórica. Tudo lá, distorcido de alguma forma, só que respeitando o espetáculo, com o Capitão América a resolver e os easter eggs também. Mesmo assim, dentro da linha de montagem atribulada que a Marvel/Disney nos tem apresentado, este «Admirável Mundo Novo» (dirigido por Julius Onah, de «Luce» e «The Cloverfield Paradox») nos chega mais contido e coerente do que os seus congéneres recentes, tornando-se, no mínimo, um mal menor. Anthony Mackie e Harrison Ford fazem o resto…

Título Original.: Captain America: Brave New World Realização.: Julius Onah Elenco.: Anthony Mackie, Harrison Ford, Shira Haas, Danny Ramirez, Tim Blake Nelson, Giancarlo Esposito Duração.: 119 minutos EUA, 2025

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