Por vezes a Marvel vira-se para o espaço para se oxigenar e fugir das convenções e das lutas entre os superpoderosos. O filme mesmo afetado com um nó de argumento no primeiro terço da obra, quando a fotografia de Ben Davis procura encontrar a luz precisa, «Capitão Marvel» impõe-se como uma vigorosa jornada de formação para a mais poderosa super-heroína da Disney e como uma bandeira política na batalha em prol do empoderamento feminino. Vencedora do Oscar por «O Quarto» (2016), Brianne Sidonie Desaulniers, ou apenas Brie Larson, usa todo o arsenal gestual que tem para injetar humor, luta e poesia a uma mulher cuja memória foi triturada por vias de uma abdução pela raça alienígena Kree. Com uma figura tridimensional nas suas mãos, a cineasta Anna Boden (de «É Uma Espécie de… Comédia») e o seu co-realizador Ryan Kenneth Fleck (do filmaço «Half Nelson: Encurralados») investem num formato de aventura estrelar semelhante à estética pop usada nos comics da Marvel dos anos 1970. A realização segue os moldes que o genial Roy Thomas, o “pai” da Capitão Marvel, idealizou, por exemplo, em “Warlock” e outras bandas-desenhadas de batalhas de super-heróis com seres alienígenas nos confins da galáxia. É um momento fundamental da edificação da cultura pop, em que a indústria de comics criou a centelha narrativa lisérgica do que viria a ser “Star Wars” e outras franquias. Mas há um tempero mediático a mais na direção: como a trama se ambienta na década de 1990, e tem elementos de espionagem, com a participação fundamental da agência de inteligência Shield, Anna Boden e Ryan Fleck travaram um diálogo com toda a linhagem de filmes teen de espiões daqueles anos. E tivemos muitos filmes desse género entre 1992 e 1996 – a título de exemplo, «Hackers», de Ian Softley, e «Heróis Por Acaso», de Phil Alden Robinson – que servem de referência à luta da Capitão Carol Denvers (Brie) para entender por que motivos foi parar entre as estrelas, para ser treinada pelo Kree Yon-Rogg (Jude Law, impecável na criação de um guerreiro dúbio) a fim de combater a raça de transmorfos chamada Skurlls. Quem lê a Marvel desde criança, odeia os Skrull sobre todas as coisas. Mas algo de novo acontece com esse raça neste filme, assente no carisma de Samuel L. Jackson (em estado de graça na pele do jovem Nick Fury, futuro líder da Shield) e da revelação Lashana Lynch, que personifica a aviadora Maria Rambeau, a amiga da Capitão. A atuação de Lashana por vezes ofusca Brie.

Título Original: Captain Marvel Realização: Anna Boden, Ryan Fleck Elenco: Brie Larson, Samuel L. Jackson, Ben Mendelsohn, Jude Law, Annette Bening, Djimon Hounsou, Lee Pace, Lashana Lynch, Gemma Chan Duração: 123 min. EUA, 2023

[Texto publicado originalmente na Revista Metropolis nº67, Abril 2019]

[Especial/Feature Capitão Marvel]

https://www.youtube.com/watch?v=Z1BCujX3pw8
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