Um filme “secundário” em termos de produção que, além do mais, traduz uma aposta pessoalíssima: Ed Harris andou cerca de dez anos para conseguir concretizar o projecto.
Independentemente do juízo de valor que nos possa suscitar, trata-se de um objecto comercialmente «desprotegido» cuja presença no mercado vale a pena avaliar. Pergunta-se: estará o mercado cinematográfico português a saber defender a sua própria diversidade?
É pena que o filme se enrede em várias situações (dramáticas e simbólicas) que lhe conferem o tom previsível de um «artes & letras» televisivo de cariz mais ou menos biográfico.
Curiosamente, e pensando noutros filmes sobre pintores — lembro-me de imediato de «A Bela Impertinente», de Jacques Rivette —, o que aqui parece faltar é a noção de que há um tempo de execução da pintura que passa tanto pelas ideias, como pelo corpo, pelo olhar e pelas mãos. Há, nesse aspecto, um breve momento em «Pollock» que me parece exemplar. Passa-se numa manhã de neve, quando Pollock/Ed Harris acorda e atravessa o pátio para se dirigir ao barracão onde tem os quadros; o facto de o filme o seguir nessa travessia instala uma duração «supérflua» que é, de uma só vez, muito física e narrativamente muito delicada.
O balanço global é simpático, há uma série de actores convidados que abrilhantam o filme, mas ficou por fazer um retrato menos estereotipado de Jackson Pollock.
Realizador: Ed Harris Intérpretes: Ed Harris, Marcia Gay Harden, Jeffrey Tambor, John Heard, Val Kilmer, Jennifer Connelly, Bud Cort, Amy Madigan EUA, 2000
[Crítica originalmente publicada no site Cinema2000 a 25 de Maio de 2001]

