O realizador é um ilusionista e os filmes são pedaços de ilusões. No caso do mestre do suspense, Alfred Hitchcock, o cinema como ilusão é uma marca distintiva da sua obra e da sua personalidade, sempre a surpreender o espetador. «O Meu Nome é Alfred Hitchcock» escrito e realizado por Mark Cousins é uma viagem ao universo cinematográfico do cineasta britânico com base em citações das suas obras, quer da fase britânica (até 1939), quer da fase americana (de 1939 até ao final da sua vida).
Já muito foi escrito, dito e filmado sobre a vida e obra do criador de «Psico» (1960), através de documentários sobre os seus filmes, ficções sobre a sua carreira e relacionamento com outras figuras cimeiras da história do cinema, livros, ensaios e programas de televisão. Agora, a proposta é ousada: é o “próprio Hitchcock” que nos leva numa viagem através dos seus filmes, ou melhor, a voz inconfundível do realizador de «Vertigo – A Mulher que Viveu Duas Vezes» (1958) a conduzir-nos às suas sequências, aos planos que filmou, às atrizes e atores que dirigiu. As imagens e sons são organizados por temas – fuga, desejo, solidão, tempo, satisfação e altura numa sucessão aliciante.
A premissa de partida de «O Meu Nome é Alfred Hitchcock» é sedutora e recorda as sessões dedicadas à memória da sétima arte de Peter Bogdanovich (realizador e historiador de cinema), quando convocava os mestres como Orson Welles, John Ford ou Alfred Hitchcock, através da imitação perfeita das suas vozes. Uma ilusão perfeita! Aqui, é a voz de Alistair McGowan que nos convoca para a ilusão sonhada por muitos cinéfilos: Hitchcock está connosco a partilhar a sua obra e vida. No primeiro tomo escolhe a Fuga: dos cenários de rodagem dos seus filmes, autênticos décors de fuga, aos fugitivos nos seus filmes. Mark Cousins destaca, também, a fuga à forma tradicional de filmar, através da criação do efeito surpresa – a ideia de brincar com o espetador. Nos temas seguintes alarga-se a reflexão, e regista-se uma certa dispersão. O lado pedagógico não é fundamental, estamos perante um exercício lúdico de aproximação ao universo de Hitchcock. É uma viagem na montanha-russa da feira de diversões e não uma aula de história do cinema! A Ver!
Título original: My Name Is Alfred Hitchcock Realização: Mark Cousins Duração: 120 min. Reino Unido, 2022
[Texto publicado originalmente na Revista Metropolis nº100, Dezembro 2023]
https://www.youtube.com/watch?v=lRkRQWe2Nfc