Esperado já pela próxima Berlinale, onde tem sido presença cativa, Hong Sang-soo vai levar a sua estética verborrágica de sujeitos e predicados. Cada palavrinha gera uma catarse ou um alumbramento para o Festival do Cairo, na 46.ª edição do evento egípcio, neste domingo. Por lá passa «O Que A Natureza Te Conta» («What Does That Nature Say to You»), produção que foi disputar o Urso de Ouro, em fevereiro, e, desde então, não sai do radar das maiores mostras do planeta. Antes, neste fim de semana, essa joia da Coreia do Sul passa pelo Brasil, para um par de exibições especiais no Cinesystem Belas Artes. Sob o título original “Geu jayeoni nege mworago hani”, essa narrativa parte da poesia para falar de família.

“Não sei os números de custo dos filmes que faço, pois neles eu cuido de tudo. Afora o elenco e um técnico de captação de som, eu escrevo, fotografo, monto, realizo… Já me disseram que as minhas longas têm um orçamento de US$ 100 mil. Talvez seja isso. Para mim, elas nascem de situações da vida cotidiana que eu observo e registro”, disse Sangsoo à revista METROPOLIS na Berlinale. “Trabalho com uma equipa de cerca de quatro pessoas. Cada projeto leva umas três semanas, sendo que a filmagem em si me consome aproximadamente sete ou oito dias de trabalho. Tenho influências que muitas outras pessoas têm, como Hemingway, por exemplo. Não trabalho com conceitos estabelecidos previamente”.

Hong Sang-soo

Povoado por personagens fascinantes em suas diferentes seções, o Cairo vai conhecer, em sessões nos dias 16 e 17, o arredio Donghwa, um poeta de trinta e poucos anos. O protagonista de “What Does That Nature Say to You” leva a namorada, Junhee, para uma viagem de carro de Seul até a casa dos pais dela, nos arredores da localidade de Icheon. Ao notar a surpresa do seu amado com o tamanho da casa e os seus jardins montanhosos, Junhee sugere que ele dê uma olhadela breve no local, mas, na entrada da garagem, eles encontram o pai da mulher, que convida Donghwa para passar o dia com seus parentes. Todos engatam numa ciranda de conversas: o patriarca, a sua esposa, que também é poeta, e as duas filhas adultas, uma delas em crise depressiva. Naquela conversa regada a álcool, Donghwa embebeda-se e deixa cair a sua máscara de deferência, revelando um lado bem constrangedor.

Sangsso (também se refere a Sang-soo, como se vê no catálogo do Cairo International Film Festival) começou a rodar as suas longas em 1996, com «O Dia Em Que o Porco Caiu no Poço». Foi alçado a um status de popstar autoral depois de ganhar o Prix Un Certain Regard de Cannes, em 2010, com “Hahaha”, a sua empresa, Jeonwonsa Film Co. A Jeonwonsa Film Co. Production consegue atender à sua mirada enxuta e à sua urgência, realizando, no mínimo, dois filmes por ano.

Neste sábado, o Cairo confere um dos hits da Mostra de São Paulo: «Cão Morto» («Dead Dog»), de Sarah Francis (Líbano/França).É um radicalíssimo estudo sobre reencontros, com ecos de «Cenas de um Casamento» (1973) — mas no Líbano. A realizadora esgrima com o silêncio numa destreza notável. Numa noite chuvosa, Aida (Chirine Karameh) dirige o seu carro pelas montanhas do Líbano até chegar em uma casa de família vazia. Apenas Walid (Nida Wakim), seu marido que vive há anos no exterior, não esperava encontrá-la por ali. Esse reencontro entre os dois, ao longo de quatro dias, não é uma experiência tranquila, já que cada um deles tenta compreender as questões do outro. Ainda resta algo a ser salvo nessa relação? Uma dissecação cuidadosa de um casamento que respira e se decompõe ao mesmo tempo.

O Cairo encerra seu festival no dia 21. 

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