Uma coisa é ser remake, outra coisa é inspiração. Robert Eggers além de se inspirar em «Nosferatu», de Murnau, o mais belo dos filmes de terror, quis homenageá-lo. Felizmente, não caiu na ratoeira do exercício da estilização do expressionismo. Quis antes encontrar um meio termo num livro de estilo que já anda a aperfeiçoar desde «A Bruxa». Contudo, encontram-se obstáculos no conceito. A saber: alguma “perfeição” a mais, como se o engenho técnico limitasse aspetos emocionais, ou seja, a praga do “perfeitinho” – não existirá nenhuma contraordenação técnica, a fotografia é imaculada e a direção de arte um mimo. Outro problema: nota-se que Eggers andou a rever demasiadas vezes »Drácula de Bram Stoker», de Francis Ford Coppola, como que o decalca em excesso.
História de uma obsessão, através dos “oceanos dos tempos”, «Nosferatu» acompanha a perseguição do Conde de Orlak à socialite Ellen Hutter. O monstro vampiro viaja da Transilvânia até Londres para uma possessão tão erótica como monstruosa. O mito de Drácula aqui explorado através de sotaques carregados, sombras e mais sombras. Tudo filmado com uma elegância refinada e com uma carga sexual capaz de filiar o macabro sem relutâncias.

Eggers é um cineasta no pleno domínio de todas as capacidades do cinema moderno, alguém que aqui é capaz de encontrar uma beleza sinistra em pleno domínio das trevas. Quase em jeito de novo gótico, quase como demonstração de uma certa teatralidade ancestral.
Manual sobre o pecado e os segredos do desejo, o filme é também sobre estar dentro do êxtase. Filma-se um estado febril, mesmo quando às vezes a fórmula procura recriar um conceito de “filme de época”. Filme de época que se desdobra no género do terror adulto e no qual as encenações do mal e do medo sugerem uma elegância escrupulosa. Fica-se é com a tal dúvida: a beleza desta monstruosidade não acanhará os nervosos do espectador? Temo que «Nosferatu» acabe por não assustar como deveria…
Título original: Nosferatu Realização: Robert Eggers Elenco: Bill Skarsgård Lili-Rose Depp, Willem Dafoe, Nicholas Hoult, Aaron Taylor-Johnson, Emma Corrin, Bill Skarsgård, Ralph Ineson, Simon McBurney Duração: 132 min. EUA, 2024
[Crítica originalmente publicada a 2 de Janeiro de 2025]
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