O contexto de «Mónica e o Desejo» é o pós-guerra, com os ventos da esperança a soprarem para a juventude, ainda que condicionada pelo conservadorismo e rigidez da sociedade sueca da época. Mónica e o seu amante enfrentam e confrontam as amarras do trabalho, alimentam a paixão e o desejo sexual, enfrentam as convenções sociais e moral vigentes profundamente reacionárias e conformistas.
Revendo o filme de Bergman, lembramo-nos de Eugénio de Andrade, notável poeta português, e do seu poema «Os Amantes sem dinheiro», prenunciador da revolução social da década seguinte, os anos 1960, pois Mónica e Harry enfrentam todos os perigos, desde os homens que a desejam, aos patrões que lhes roubam o tempo de prazer, à família que os castiga até culminar naquela família tradicional, dum profundo conservadorismo que aprisiona a protagonista.
O verão ardente, a paixão e a aventura do casal são intensamente vividos, num estado puro e selvagem, pelo casal de protagonistas. Porém, perto do fim, a paixão é já uma miragem, destruída com a gravidez inesperada da protagonista e o fim, anunciado da relação. Mónica não quer viver como as mulheres da sua época, presa à casa, a uma família convencional e a uma criança que não quis ter. É uma decisão revolucionária!
Filmado num belíssimo preto e branco, com planos imensamente bonitos onde o claro/escuro são “desenhados” de forma brilhante, com um ritmo cadenciado, personagens carismáticas, diálogos bem escritos e uma tensão em crescendo, este clássico de Bergman estreado em 1953, é uma obra de arte intemporal, capaz de apaixonar gerações sucessivas de espetadores e tem lugar cativo na história do cinema.