Realizador de «Ironia da Sorte» («O Palhaço», em Portugal), de 1924, o sueco Victor Sjöström (1879-1960) construiu uma carreira memorável como cineasta, entre as décadas de 1910 e 1930, em paralelo aos seus experimentos como ator, que foram encerrados quando ele, aos 78 anos, assumiu o protagonismo de um dos mais possantes estudos de Bergman sobre o vazio existencial. Indicado ao Óscar de Melhor Argumento Original, «Morangos Silvestres» ganhou o Urso de Ouro na Berlinale de 1958. O mesmo evento rendeu a Sjöström uma láurea especial da Fipresci (a Federação Internacional de Imprensa Cinematográfica) pelo conjunto da sua obra. A trilha sonora de Erik Nordgren (1913-1992) é um deslumbre a mais num filme que transborda lirismo. Periga ser o trabalho mais doce de Bergman, apesar do seu constante olhar sobre a finitude.
O guião foi escrito enquanto Bergman estava no hospital, lidando com problemas gástricos. A inspiração foi uma jornada feita por ele de Estocolmo a Dalarna, onde parou para visitar a casa da sua avó, em Uppsala. O percurso despertou memórias lúdicas do seu passado e inspirou a escolha do título original, «Smultronstället», que além da tradução literal (os tais Wild Strawberries) simboliza uma expressão popular da Suécia. A expressão quer dizer: “a joia que reside num espaço, num local”.
Na atuação, Sjöström equaliza amargura, tédio e cinismo na primeira metade, caminhando para um processo de redenção afetiva conforme a narrativa se descortina. Ele vive o professor Isak Borg, um médico viúvo de 78 anos, especializado em bacteriologia. Antes de se especializar, ele atuou como clínico geral na zona rural da Suécia. Ele parte numa longa viagem de carro de Estocolmo a Lund para receber o título de Doutor Jubilaris, 50 anos depois de ter concluído seu doutorado. Esse percurso vai modificar a sua relação com a vida. No trajeto, ele está acompanhado da sua nora grávida, Marianne (Ingrid Thulin), que não gosta muito do sogro e está a planear separar-se do marido, Evald (Gunnar Björnstrand), único filho de Isak. Durante a viagem, o velho educador é tomado por pesadelos e devaneios, enquanto confronta a sua velhice e a morte iminente, procurando reavaliar a sua vida. No caminho, ele conhece uma série de pessoas que andam à boleia, cada um com um anseio diferente. A cada encontro, a sua rotina modifica-se.