Dentro da fase formativa de Ingmar Bergman, este foi o filme que deu início ao reconhecimento de um verdadeiro cineasta. Ou melhor, é o momento inaugural de um lirismo que até então não se fizera sentir explicitamente na sua obra. Através de um diário, e da revisitação que ele sugere, «Sommarlek» (1951) desenha a metáfora da felicidade eterna num longínquo verão com casa de bonecas e morangos silvestres à beira de um lago. Nascido de uma história que o realizador sueco escreveu quando tinha apenas 19 anos, imaginando, nos seus termos, a beleza do primeiro amor numa serena paisagem estival, em «Um Verão de Amor» está refletida a condição efémera dessa beleza. Uma obra-prima que dá a Maj-Britt Nilsson, a grande atriz do Bergman desse período, uma espécie de eternidade magoada, na pele da bailarina que cai no abismo doce e nefasto da memória.
[Texto publicado originalmente na Revista Metropolis nº109, Agosto 2024]