Page 176 - Revista Metropolis nº122
P. 176
ERNEST COLE:
PERDIDO E
ACHADO
TÍTULO ORIGINAL
Ernest Cole: Lost and Found
REALIZAÇÃO
Raoul Peck
DOCUMENTÁRIO
ORIGEM
EUA, França
DURAÇÃO
105 min.
ANO
2024
«Ernest Cole: Lost and Found» («Ernest Cole: Ernest Cole (21 de Março de 1940 – 19 de Fevereiro
Perdido e Achado»), 2024, foi produzido e realizado de 1990). Tal como se indica, há no filme um “lost”
pelo haitiano Raoul Peck, cineasta com provas (perdido) e um “found” (achado) que importa referir:
dadas no domínio da militância a favor de causas o lado perdido de um homem que viveu muitas
que muitos como ele abraçaram e que constituem vidas em várias geografias, sem nunca encontrar
marcos civilizacionais na luta pela preservação da a fama e proveito que bem merecia, e o mistério
dignidade e memória dos povos no contexto do seu que ronda a descoberta dos seus arquivos que se
devir histórico e no lugar que cada um de nós ocupa pensavam desaparecidos e que se encontravam
no mundo em que vivemos. Recordemos a esse inexplicavelmente arquivados num banco da Suécia,
propósito «Lumumba: La Mort du Prophète», 1990, um dos países por onde passou na longa peregrinação
sobre o dirigente congolês assassinado, e o belíssimo após o exílio a que se viu forçado. Exílio provocado
«I’m Not Your Negro» («Eu Não Sou o Teu Negro»), em grande parte pelo facto de em meados dos anos
2016, dedicado ao activista e escritor americano sessenta do Século XX, ou seja, na África do Sul ainda
James Baldwin. No filme que agora se estreia em dominada pelo infame regime do apartheid, ver um
boa hora pela mão da Films4You, Raoul Peck volta livro seu publicado e logo proibido. Intitulou-se House
a concentrar a atenção numa personalidade ímpar, of Bondage, que em português poderíamos designar
forte e representativa da negritude política e com por Terra da Servidão, ou mesmo da Escravidão.
intervencionismo culturalmente relevante. Trata-se Não era para admirar, pois mostrava com particular
mais uma vez de um documentário de criação e uma acutilância, mas também com qualidade imagética e
peça essencial para descobrirmos ou recordarmos a uma rara sensibilidade artística e visual, os horrores
importância da vida e obra do fotógrafo sul-africano a que as autoridades brancas e racistas submetiam
176 METROPOLIS SETEMBRO 2025