O excelente primeiro tomo da saga épica de Kevin Costner sobre a conquista do Oeste americano tem uma banda sonora verdadeiramente à altura assinada por John Debney, veterano e conceituado compositor norte-americano capaz de abarcar facilmente os mais diversos géneros cinematográficos, cuja primeira incursão no faroeste aconteceu no período entre 1989-92 na espirituosa série televisiva juvenil Os jovens Cowboys. A sua grandiosa partitura ao estilo do genial Erich Wolfgang Korngold para “A Ilha das Cabeças Cortadas” (1995) e a de “A Paixão de Cristo” (2004), nomeada ao Óscar, conjunção de World Music com uma grande orquestra e um coro, serão ainda, possivelmente, as suas duas maiores composições para o cinema.
Para «Horizon: Uma Saga Americana – Capítulo 1» Debney compõe uma partitura tematicamente complexa, na tradição sinfónica de alguns dos grandes westerns da última vintena do século XX, captando a sonoridade de obras como «Silverado» e «Tombstone» de Bruce Broughton e «Wyatt Earp» de James Newton Howard. Debney, à frente da Royal Scottish National Orchestra reforçada com uma grande e variada secção de percussão, estabelece um variado rol de ideias melódicas. Após o visionamento do filme e de repetidas audições da BSO, é possível descortinar alguns dos temas musicais que vão ganhando proeminência e importância ao longo da narrativa. A sequência inicial, que culmina com uma estaca a ser cravada no solo, introduz-nos o tema principal (Horizon Main Title Theme) que simboliza o território de Horizon. Há depois um outro tema (Leaving Horizon/ The Tribe Splitting Up) que parece exprimir a perseverança das personagens, sejam colonos ou indígenas, e que ganha contornos épicos durante a montagem das cenas referentes aos próximos capítulos (Horizon Montage Begins/ Closing Survey). Hayes Ellison, interpretado por Kevin Costner, ganha também um tema específico (Hayes Entrance) que reflecte a nobreza da personagem. Já a relação amorosa entre o mesmo e a prostituta Marigold vai sendo igualmente sublinhada por uma melodia de cariz delicado (One More Night, Seducing Hayes, Persistent Marigold) tocada por uma guitarra. Por fim, destaco o tema que simboliza a confraternidade entre os colonos e que é executado pela orquestra na sua plenitude durante a comovente cena em que a pequena Elizabeth distribui flores pelos soldados (Cloth Flowers). Durante o filme há também momentos de tensão vertiginosa que Debney destaca com bravura (Russell Escapes/ Nathaniel Leaving Frances and Elizabeth, Trading Post Standoff, Gunfight at Marigold’s).
Nesta BSO, editada em digital pela Sony Classical, Debney reúne alguns dos seus solistas de eleição: a violinista Molly Rogers (Gephart Approaches Frances), os guitarristas George Doering e Andrew Synowiek (Desmarais Off Track) e a vocalista Lisbeth Scott (Young Surveyor’s Death, Battle Pauses/ Opening Jar of TNT), com quem já havia colaborado em «A Paixão de Cristo» e «Homem de Ferro 2». Os créditos finais escondem um pequeno tesouro, uma nova versão de Amazing Grace da promissora cantora country Alyssa Flaherty acompanhada por Shelley Morningsong que merece ser ouvida. Aguarda-se com expetativa a continuação desta epopeia, também ela, musical.