A La-La Land Records em parceria com a Universal Studios acaba de editar o mais recente título da “Universal Pictures Film Music Classics Collection”, uma verdadeira pérola para os entusiastas do mundo das bandas sonoras, que assinala os cinquenta anos da mítica e extraordinária colaboração entre o realizador Steven Spielberg, que se estreava aqui na longa-metragem cinematográfica, e o compositor John WIlliams. Estamos definitivamente perante um acontecimento e a razão é simples: é a primeira edição comercial da banda sonora original de «Asfalto Quente»(«The Sugarland Express»), filme de 1974 que reuniu Spielberg e Williams pela primeira vez. O resto, como se costuma dizer, é história…
2024 tem sido, aliás, um ano fértil no que diz respeito a lançamentos até agora inéditos de bandas sonoras originais de filmes com o estatuto de clássicos: realço aqui também, por exemplo, o disco da assombrosa partitura de uma das obras maiores de Bob Clark, «Processo Arquivado por Ordem Real»(«Murder By Decree»), de1979,composta pela dupla Carl Zittrer e Paul Zaza, disponibilizado pela Howlin’ Wolf Records no passado mês de Junho.
«Asfalto Quente»inspira-se em factos verídicos ocorridos no Texas durante o ano de 1969. A história da fuga mirabolante de um casal, Lou Jean Poplin (Goldie Hawn) e Clovis Poplin (William Atherton), decidido a resgatar o seu filho de uma iminente adoção. As coisas complicam-se quando o casal rapta um agente da polícia e toma-o como refém. Spielberg ganha interesse pela música de Williams depois de assistir aos filmes «Os Ratoneiros»(1969) e, mais tarde, «Os Cowboys» (1972), partituras que, curiosamente, marcam um ponto de viragem na obra do compositor norte-americano que passa a adoptar uma sonoridade marcadamente influenciada por Aaron Copland. Era esta sonoridade que o realizador pretendia para «Asfalto Quente». O compositor, todavia, achou que a música deveria assumir um cariz mais comedido: uma harmónica e uma pequena secção de cordas e percussão serviriam como o fundamento da partitura, o necessário para sublinhar a paisagem rural que serve de cenário à história. The Sugarland Express – Main Title introduz a melodia principal tocada pelo grande instrumentista belga Jean ‘Toots’ Thielemans, músico de jazz e um verdadeiro portento da harmónica.
O facto da duração da música no filme ser escassa parece ter feito com que Williams, durante anos, não mostrasse interesse em ver esta sua BSO editada no circuito comercial. Com efeito, algumas faixas do presente álbum (que conta 40 minutos de duração) acabariam por não ser incluídas no filme. Exemplo disso é a vibrante The First Chase, curiosamente uma das melhores do disco. Globalmente, a música acentua o suspense e as sequências de perseguição, sendo o casal Poplin personificado, de certo modo, no som da harmónica de Thielemans. A partitura atinge o seu clímax na soberba penúltima faixa The Final Ride, engrandecida por uma secção de metais,antes de uma reprise do tema principal (The Sugarland Express – End Title) concluir o disco. Esta edição histórica em CD é limitada a 5000 cópias, estando também iminente a (já inevitável) edição em vinil.