Apesar da trilha sonora contagiante e do visual capaz de desbundar o mais cético analista de realidade virtual, «Ready Player One: Jogador 1» é um Spielberg de fôlego menor e não por opção de modéstia: é nítida a ambição do Midas de Hollywood em quebrar oa paradigmas de imagem, mas a dramaturgia não sustenta a decoração festiva.

Quem saiu do tenso «The Post» com a certeza de ter visto o cineasta na sua melhor forma e no seu melhor filme desde «O Resgate do Soldado Ryan» (1998) vai penar aqui, diante de uma trama manca e óbvia, que não mergulha fundo na reflexão platónica esboçada pelo diretor. Temos um futuro pertinho de nós onde a Humanidade enfiou a cabeça num videojogo coletivo no qual todos buscam uma promessa de felicidade. Quando o criador do jogo (o superestimado Mark Rylance) tenta passar seu império adiante, àquele que debelar os seus desafios e encontrar três chaves mágicas (enredo que evoca atos de Willy Wonka em «A Maravilhosa História de Charlie» [1971]), a empresa responsável pela gestão do “jogo” busca meios de falsear os resultados, destruindo os potenciais vencedores. Cabe a um pobre órfão (Ty Sheridan, sempre infalível) passar por todos os níveis, tendo a ajuda de amigos e de um possível amor: Art3mis (Olivia Cooke). Há um “mais do mesmo” inevitável na premissa decalcada do romance de Ernest Cline. E esta até poderia ser deglutida com mais sabor caso a montagem não deixasse uma barriga crescer perto dos 55, 60 minutos iniciais, tornando rocambolescas situações aparentemente simples e diluindo o tônus reflexivo. Estamos diante de um ensaio sobre os perigos da alienação pela virtualidade, disfarçado sob vestes de discussão sobre o amadurecimento – assunto essencial a Spielberg.

Claro que o realizador, um dos maiores mestres do audiovisual moderno, eleva a parada (bem alto!) em múltiplas situações, sobretudo em sua investigação sobre a interação multirracial e sobre a fraternidade. Mas não temos neste filme o arrebatamento prometido pelo trailer. É visível a falta de intimidade de S.S. com o tema e com o ambiente dos jogos. O seu trunfo é o seu vilão, o empresário Nolan Sorrento, um escroque irónico que engole toda a tela graças ao talento GG de Ben Mendelsohn. Aliás, como se viu em «Rogue One» (2016), não há filme que este australiano não roube para si. O mesmo não pode se dizer de Rylance, que apela para múltiplos trejeitos mas não alcança a dimensão trágica que se esperava sempre dele.

Título original: Ready Player One Realização: Steven Spielberg Elenco: Tye Sheridan, Olivia Cooke, Ben Mendelsohn. 140 min. EUA, 2018


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