Tom Holkenborg (também o conhecemos no mundo artístico como Junkie XL) revisita o universo musical de Mad Max depois de já ter assinado a partitura de Mad Max: Estrada da Fúria. Holkenborg ganha notoriedade em Hollywood depois de ter trabalhado com Hans Zimmer na Remote Control Productions. Natural dos Países Baixos, o compositor multi-instrumentista e produtor musical iniciou-se na música eletrónica e trabalhou como DJ. Para além do seu percurso na composição de filmes, tem tido um papel de relevo na indústria da música, e da música para cinema em particular, nomeadamente através do seu canal de YouTube, Studio Time, onde revela os seus métodos de trabalho, e também pelo seu valoroso projeto da SCORE Academy, um programa educativo para os músicos mais talentosos.
Sendo um compositor com formação na Remote Control, o seu estilo confunde-se, naturalmente, com o de Zimmer. De caráter percussivo, sobrecarregada de sons industriais agressivos impulsionados amiúde por uma persistente linha rítmica metronómica, a partitura de Furiosa: Uma Saga Mad Max aborda, a espaços, alguns dos temas/motivos musicais presentes em Mad Max: Estrada da Fúria, mas não os desenvolve. O disco abre com The Pole of Inaccessibility que introduz o mesmo motivo musical premonitório e funesto de três notas nas cordas graves de Mad Max: Estrada da Fúria. Wive’s Quarters é um momento pungente, de cariz clássico, e de um surpreendente lirismo, claramente um dos pontos altos da partitura.
Na instrumentação de Furiosa: Uma Saga Mad Max salienta-se o timbre sereno do duduk – o oboé arménio-, um dos mais antigos instrumentos tradicionais de sopro, frequentemente utilizado em filmes, particularmente com o intuito de transmitir uma atmosfera mística e melancólica. Ao longo da partitura, Holkenborg parece querer associar o duduk às raízes de Furiosa no Lugar Verde das Muitas Mães. Encontra-se proeminente, por exemplo, na faixa The Promise. Holkenborg explora também as sonoridades muito particulares do didjeridu – instrumento desenvolvido pelo povo aborígene do norte da Austrália – e do bullroarer (ou rombo). Este último – também ele um instrumento usado pelos aborígenes australianos -, simula o som do motor de um carro e o efeito é estonteante. Escutamo-lo em faixas como The Stowaway, Dementus’ Diatribe ou The Darkest of Gods. De entre as cinco, parece-me, de longe, a menos satisfatória de todas as partituras da saga Mad Max. Brian May e Maurice Jarre têm, diga-se, um trabalho notável na trilogia original – convido o leitor a (re)descobrir estas BSO. Ainda assim, embora globalmente monótona, a música de Furiosa: Uma Saga Mad Max serve perfeitamente o seu propósito de transmitir o caos de Wasteland. Para quem ainda não tenha visto o filme desaconselha-se a audição da última faixa da BSO (Epilogue) pois há uma curta narração que contém spoilers. Editado em digital pela WaterTower Music e em CD e vinil pela Mutant.