Bullit

BULLIT

BULLIT

O tenente Frank Bullitt da polícia de São Francisco é destacado para proteger uma testemunha durante um par de dias até que esta faça o seu depoimento, mas as coisas dão imediatamente para o torto e quando esta é morta a tiro de caçadeira logo nas primeiras horas de vigia. Bullitt leva a coisa a peito e propõe-se a descobrir os culpados, avançando com uma investigação que o conduz a uma inesperada conspiração.

Realizado por Peter Yates em 1968, «Bullitt» viria a transformar-se num marco na história do cinema e, em particular, uma referência incontornável dentro do género, elevando a outro nível a fasquia para todos os filmes policiais e de acção que se seguiriam.

O centro de gravidade do filme é, de forma indiscutível, a excepcional interpretação de Steve McQueen no papel de Frank Bullitt. Actor e personagem fundem-se, libertando as doses exactas de charme e carisma para tornar impossível desviar os olhos do ecrã. O leque de actores secundários é encabeçado por Robert Vaughn, Robert Duvall e ainda Jacqueline Bisset, que é o elo mais fraco do filme. Bisset surge no elenco não só para trazer alguma cor à atmosfera crua do filme, mas também, como interesse romântico de Bullitt, para nos trazer um olhar diferente sobre o homem e o mundo que habita. No entanto, não acrescenta nada de essencial e também não é uma personagem propriamente bem escrita. Era escusado, mas não é nada que comprometa o filme no seu todo.

Até porque o todo é uma colecção de peças icónicas por mérito próprio, de tal forma que as podemos considerar como parte do elenco. Das ruas de São Francisco aos dois carros que protagonizam a mítica perseguição (já lá vamos), passando pela banda sonora de Lalo Schifrin, tudo em «Bullitt» é como uma estrela de uma constelação. Para onde quer que olhemos, há sempre algo a brilhar.

Quanto à referida perseguição, diz-se que é a melhor perseguição automóvel alguma vez filmada para o cinema. É verdade. É uma sequência frenética que rebenta inesperadamente com o pisar de um acelerador. Se até então tínhamos uma narrativa tensa e lenta, naquele momento em que o ronco do motor e o chiar dos pneus se faz ouvir pela primeira vez, os níveis de adrenalina disparam. E não baixam durante os dez minutos que se seguem até a perseguição ter o seu término. Dez minutos sem música nem diálogo, apenas com o som de motores, pneus, caixas de velocidade, colisões e tiros. Um feito magistral de realização, de edição e de perícia (com o próprio Steve McQueen ao volante do clássico Ford Mustang).

Título original: Bullit Realização: Peter Yates Elenco: Steve McQueen, Jacqueline Bisset, Robert Vaughn, Robert Duvall Duração: 114 min. 1968, EUA

[Texto publicado originalmente na Revista Metropolis nº97, Verão 2023]