Steve McQueen é um cineasta de situações limite, conjunturas em que todas as regras de funcionamento das relações humanas são, drasticamente, postas à prova. Assim aconteceu nas cenas da prisão em «Fome» (2008) ou nos labirintos da sexualidade em «Vergonha» (2011). Assim volta a acontecer em «12 Anos Escravo», consagrado com o Oscar de melhor filme de 2013.

Com alguma facilidade se terá considerado, por vezes, que estávamos “apenas” perante mais um título a acrescentar à árvore genealógica de abordagens cinematográficas da história da escravatura nos EUA. Dir-se-ia que tal visão parece julgar que a inscrição de um determinado “tema” num filme não passa da confirmação (mais ou menos talentosa) de variações que já foram experimentadas ou mesmo esgotadas. Importa reagir a tal formulação, quanto mais não seja porque McQueen lida com um caso absolutamente excepcional: Solomon Northup (Chiwetel Ejiofor) foi um cidadão negro que, em meados do séc. XIX, pôde viver, de pleno direito, a sua condição de homem livre, tendo sido raptado e submetido a 12 anos na condição de escravo.

Estamos, assim, perante uma rede de olhares e situações que desafiam qualquer visão linear da história, expondo antes o movimento em ziguezague das forças e valores sociais. No limite, podemos mesmo dizer que McQueen recupera as normas clássicas do filme histórico para conduzir o género a novas e impressionantes paisagens. JOÃO LOPES

Título original: 12 Years a Slave Realização: Steve McQueen Elenco: Chiwetel Ejiofor, Michael Kenneth Williams, Michael Fassbender, Paul Giamatti, Benedict Cumberbatch, Lupita Nyong’o, Brad Pitt, Sarah Paulson, Alfre Woodard. Duração: 134 min. EUA/Reino Unido, 2013

[Crítica originalmente publicada na revista Metropolis nº20, Junho 2014]

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