De cada vez que chega aos cinemas um novo filme de Baz Luhrmann, já se sabe que dará origem a ódios e paixões. Sabe-se que, à partida, ainda antes da sessão, há quem não tenha dúvidas de que não vai gostar. E é legítimo, já que o realizador australiano não tem pudor em exceder-se nas mais extravagantes cenas, aplicando quase sempre largas doses de amor, confettis, plumas e fogo-de-artifício e esse é um estilo que não cai bem em todos os estômagos.
Mas para outros, como a que vos escreve, Baz Lurhmann é sinónimo de cineasta que sim, se deixa, de quando em vez, entusiasmar demasiado, mas que põe todo o coração cá fora de que cada vez que o faz e, por isso, merece desculpa para tudo. O seu olhar sobre «O Grande Gatsby», obra máxima da literatura americana, não é excepção neste historial. Depois de «Austrália», Lurhmann decide agarrar na história escrita por F. Scott Fitzgerald sobre a busca (e perda) do sonho americano e adaptá-la ao seu universo e à sua estética, incluindo a já habitual banda sonora contemporânea, que aqui conta com participações de Jay Z, Lana Del Rey ou Beyoncé.
A narrativa é célebre e conhecida de todos: Jay Gatsby (DiCaprio) é um self made man, retrato das excentricidades dos anos 20, que, à primeira vista, é a talk of the town por causa das festas que dá em casa, mas, numa segunda leitura, é um homem solitário que quer recuperar o grande amor da sua vida e conseguir o que alguém da sua classe nunca tinha conseguido na América da época.
Tal como no livro, também no filme de Luhrmann somos guiados pelo vizinho de Gatsby e narrador Nick Carraway (Tobey Maguire). A fazer as vezes da frágil e instável Daisy, a paixão perdida de Gatsby, está Carey Mulligan. O elenco porta-se à altura das icónicas personagens que interpreta e dá ao filme o centro de que ele necessita.
Esteticamente, esta adaptação de Gatsby está perto do visual a que o seu comandante nos tem habituado nos seus filmes – talvez mais de «Moulin Rouge» do que de «Romeu e Julieta» ou «Austrália», mas a época recriada também se presta a essas extravagâncias. Há um esforço para acompanhar fielmente os passos do livro mas o que Luhrmann claramente recusa é dar ao seu filme parte da subtileza da obra original. Em «O Grande Gatsby» tudo é feito para ser épico, reluzente, grandioso, como na mais debochada festa dos anos 20. E ainda que às vezes o exagero canse, no final o trabalho é competente e o filme de coração aberto. Inês Gens Mendes
[Crítica originalmente publicada na revista Metropolis nº9, Maio 2013]
Título Original: The Great Gatsby Realização: Baz Lurhmann Elenco: Leonardo DiCaprio, Carey Mulligan, Tobey Maguire, Joel Edgerton Duração: 142 minutos EUA, 2013
https://youtu.be/HJCz3lMa4Xw