Em 1971 chegava às salas de cinema «007 – Os Diamantes são Eternos». Ao contrário de Sean Connery, o filme viria a envelhecer muito mal. Vê-lo hoje é entrar num mundo de estereótipos, trocadilhos de gosto duvidoso e maneirismos de pantomina a fazerem-se passar por representação.
Neste universo paralelo os homens são de um pragmatismo mecânico e resolvem as situações com a força dos punhos conseguindo, porém, a proeza de nunca se despentearem. As mulheres, por seu turno, são magníficos bibelots. Vestindo pequenos nadas, estão lá para serem objectos de desejo.
Podemos encontrar a essência desse universo de redutoras ideias feitas numa só cena. No casino, um “cientista”, de forte sotaque alemão, anuncia uma aberração: uma mulher negra capturada em Nairóbi na África do Sul – como fazem questão de nos informar, não fossemos nós pensar que era a capital do Quénia – transforma-se numa macaca. Todos os clichés, ignorância e falta de gosto concentrados em poucos minutos.
O que poderá então salvá-lo? Nada mais que a música, de mesmo nome, cantada pela divina Shirley Bassey. Esta tem tudo o que um filme de 007 pode – e deve – ter: mistério, ritmo, sofisticação, envolvência e uma densa atmosfera sexual. O compositor Jon Barry pediu a Bassey para imaginar que estava a cantar, não sobre diamantes, mas sobre pénis. Dizem que o co-produtor Harry Saltzman odiou essa sexualização do tema. Terá sido pelo facto de a música, ao contrário do filme, o ter conseguido fazer com muito bom gosto? Nuno Vaz de Moura
Título original: Diamonds Are Forever Realização: Guy Hamilton Elenco: Sean Connery, Jill St. John, Charles Gray, Lana Wood, Jimmy Dean, Bruce Cabot, Putter Smith, Bruce Glover, Norman Burton, Bernard Lee, Desmond Llewelyn, Lois Maxwell. Duração: 120 min. Reino Unido, 1971
Tema musical: “Diamonds Are Forever” – interpretação Shirley Bassey, letra Don Black, compositor John Barry
[Texto originalmente publicado na revista Metropolis nº2, Outubro 2012]
https://www.youtube.com/watch?v=M5xtULTukaQ