[Texto publicado originalmente no site Cinema2000, 6 de Novembro 2008]

A sequela de «007 — Casino Royale» marca o regresso aos tiques da fórmula clássica. Os produtores Barbara Broccoli e Michael G. Wilson, versões modernas de Goldfinger, são possessivos em cada passo criativo do personagem/marca 007. Com uma premissa simples, em torno da vendetta de Bond o caminho estava livre para o espectáculo de magníficos, stunts reais, perseguições (a cena inicial é soberba), explosões e combates com fartura. Não está em causa a qualidade destas sequências, novamente a expressão do melhor do que se faz no género, claras influências da série Bourne, Dan Bradley, responsável pelas perseguições, está em ambos projectos. Bond volta a fazer acrobacias para todos os gostos, em terra, na água e no ar. O problema passa pela eliminação da tensão e interacção entre a narrativa e personagens, algo existente em «007 — Casino Royale», sobra apenas uma sucessão de planos de acção. Em relação ao antecessor é uma obra desequilibrada, tenta sem sucesso trazer as motivações de vingança para as palavras, estas são abafadas por mais um stunt. Em «007 — Casino Royale» provou-se que os sentimentos existiam dentro do icon, havia espaço para o desenvolvimento da emoção, em «007 — Quantum of Solace» há um recuo nesse importante aspecto.

Daniel Craig volta a ser convincente, não tem tempo para aplicar doses de charme, tem algumas interessantes one liners. Olga Kurylenko (Camille) finalmente parece uma actriz, em vez de modelo atraente, surge num papel onde não é apenas sensual, pode interpretar uma personagem, sente-se a motivação nos seus olhos. Judi Dench, está firme e desenvolve, ainda que de forma incipiente uma relação quase maternal com Bond. Destaque para Mathieu Amalric (Dominic Greene) com um desempenho suave e diabólico, a saga Bond já sentia a falta de um vilão misterioso, a puxar os vilões mais nostálgicos.

A realização de Marc Forster é em jeito de ping-pong, vai batendo bolas com Bradley (director da segunda unidade de filmagens), resulta um retalho direccional. Marc Forster esboça por vezes o seu talento ao contrapor acontecimentos “vulgares”, uma corrida de cavalos ou a performance de Tosca respectivamente com a intensa perseguição a pé em Itália e a precisão de Bond a despachar adversários nos bastidores da ópera, ainda há tempo de Forster ter alguns planos felizes no deserto. Apesar de criar, inicialmente, algum incómodo a escolha dos americanos Jack White e Alicia Keys para o tema de abertura – o primeiro dueto da série 007 nos créditos iniciais – o genérico ao som de “Another Way to Die” torna-se num dos momentos mais perfeitos do filme.

A sofisticação desta produção é mais uma vez aplicada apenas em prol do entretenimento. Outros zeros voltam a determinar os destinos deste 007, prova que a eficácia comercial não precisa de um bom guião. Sobra um amargo de boca num objecto que tinha todas as capacidades para ser melhor.

Título original: Quantum of Solace Realização: Marc Forster Elenco: Daniel Craig, Olga Kurylenko, Mathieu Amalric, Judi Dench, Gemma Arterton, Jeffrey Wright, David Harbour Duração: 106 min. Reino Unido/EUA, 2008

http://youtube.com/watch?v=mkLcEGMkGMs
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