«Vive e Deixa Viver» é uma comédia de acção com um elenco repleto de estrelas nacionais. O filme está em calha para acompanhar os dois maiores sucessos de cinema português em 2024, «Podia Ter Esperado por Agosto» e «Balas & Bolinhos: Só Mais uma Coisa», duas comédias que conseguiram ultrapassar a espantosa marca dos 100 mil espectadores.
«Vive e Deixa Viver» foi realizado por Miguel Cadilhe e tem como protagonista o inimitável comediante Eduardo Madeira. Ao seu lado encontramos uma mão cheia de caras conhecidas do grande público como Débora Monteiro, Oceana Basílio, Ricardo Carriço, Alexandra Lencastre, Joana Pais de Brito e Dinarte de Freitas entre outros.
A METROPOLIS entrevistou Eduardo Madeira que interpretou o protagonista Lucas, falamos sobre esta comédia de acção e do seu papel com reminiscências do famoso Peter Sellers, actor imortalizado pelo seu papel de Inspector Jacques Clouseau nos filmes da Pantera Cor-de-Rosa.
Como surgiu o desejo de fazer cinema?
Eduardo Madeira: Comecei como guionista, na altura, havia uma empresa que era as Produções Fictícias. Eu sempre tive o interesse da escrita até essa altura é uma coisa que… como diz o Woody Allen “não fui eu que escolhi, foram eles que escolheram por mim”. Eu é que fui quase raptado. Mas a minha ideia era, a certa altura, ser escritor, escrever para televisão. E escrevia como um mouro, e comecei a trabalhar nas Produções Fictícias, a escrever para o Herman José, para o «Contra Informação» [da RTP], muitos programas, o «Conversa de Treta», peças de teatro… E nesse meio comecei a pensar, é isso mesmo que eu gosto de fazer, principalmente o humor. Foi assim que cheguei a este meio. Fui apercebendo-me que gostava de fazer humor, fosse de que maneira fosse. Se estivesse a ser a escrever, era a escrever, se estivesse a fazer banda desenhada, era a banda desenhada, num palco, era num palco, na televisão… É aí que aparece o cinema como arte maior e como uma vontade de fazer uma coisa, porque um filme, até um mau filme, é algo que fica para sempre. É uma peça de arte, é uma obra de arte.
Uma das principais inspirações para o papel de Lucas foi precisamente o Peter Sellers. Como é que foi a preparação para este desempenho?
Eduardo Madeira: A admiração pelo Peter Sellers é comum, eu e o realizador somos dois fãs. O realizador pediu-me que o Lucas, ainda que fosse uma ligeira homenagem a alguma coisa, fosse um personagem meu, com a homenagem em fundo ao Peter Sellers. É normal, não teria lógica nenhuma se eu estivesse a imitar o Peter Sellers, era só disparado.
O grande desafio, como ator, foi o realizador pedir-me que eu fizesse uma personagem que fosse intrinsecamente boa, ou seja, que nunca revelasse nenhuma malícia. Isso é quase impossível, porque nenhuma pessoa é 100% absolutamente boa. Há um lado no meu personagem que roça o tonto, no sentido de que ele de facto não revela maldade, ou pelo menos uma maldade mais pensada, intencionada. O coitado limita-se a reagir às coisas e normalmente, mesmo que a vida o trate muito mal, ele reage bem.

Temos aquela ideia que é mais difícil fazer comédia do que o drama.
Eduardo Madeira: Eu não tenho nenhum problema em dizer: eu gosto muito de trabalhar com algum improviso e com alguma espontaneidade. Mas a verdade é que o guião é de tal forma bem construído que não deixou nenhuma ponta solta, não cria uma trama que depois não fosse resolvida. Pensei que qualquer improviso que vá muito para além do que estivesse escrito, poderia levar a falhar a história ou que esta não fosse bem resolvida. Os improvisos que eu fiz foi mais até em situações físicas, de comédia física. Tive esse cuidado e acho que é um trabalho rigoroso.
Como é que correu a rodagem de «Vive e Deixa Andar», atendendo que o elenco é vastíssimo?
Eduardo Madeira: É um elenco muito heterogéneo, com pessoas muito diferentes umas das outras, vindas de muitos sítios. Mas foi incrível, porque depois tudo encaixa e fica tudo a fazer sentido. Eu comparo um bocadinho àqueles pratos que agora vemos os chefs mais modernos a fazerem onde eles colocam sardinha com compota e com endívias. Uma pessoa diz que não faz sentido. Mas depois na boca, a mistura, é inacreditável. É assim que quando olhas para o elenco, dizes: Isto é grupo muito estranho de pessoas. E depois está toda a gente bem. A Alessandra Lencastre é um tratado. Leva tudo à frente, é furacão. Mas toda a gente está muito bem. É um filme incrível.

Quando recebeu a ideia de guião de «Vive e Deixa Andar», o que pensou que poderia ser para si o aspecto mais desafiante?
Eduardo Madeira: Há uma componente de ação no próprio filme e de cenas arriscadas de ação que a mim começaram logo a fazer cócegas na cabeça, mas nós tivemos uma equipa incrível para coreografar as cenas de ação, o que fazia era olhar muitas vezes e disse ao realizador “Deixa-me tentar fazer também”. E, portanto, algumas das cenas de ação mais complicadas, fui eu que fiz mesmo e não só o duplo. Os duplos também fizeram as cenas mas eu também fiz. Em relação ao resto, quando olhas para uma coisa que está tão bem concebida e tão bem pensada, que ficas com a responsabilidade de não estragar, de fazer o suficiente para que aquilo que lá está fique bem feito. E acho que neste caso, muitas vezes, aquilo que eu tive de fazer a mim próprio foi a ideia que menos é mais. Não vale a pena estar aqui a carregar na coisa, vou fazer o suficiente, porque é a tendência de qualquer comediante. É sempre… Não há travões. O nosso cérebro não funciona assim. Mas fiz essa autolimitação, da minha loucura e da minha vontade, de fazer coisas ainda mais engraçadas. Porque eu acho que o que estava era tão bom que estar a fazer mais poderia comprometer esse resultado.
O que é que o público pode esperar de «Vive e Deixa Andar»?
Eduardo Madeira: É um filme despretensioso. É um filme com um lado, obviamente, popular e mainstream, mas com referências muito giras, para quem é cinéfilo. O imaginário do Bond anda lá em fundo e as pessoas vão-se rir, vão achar piada a isso. Até mesmo na Banda Sonora, que também foi feita pelo Filipe Homem Fonseca [argumentista], é fantástica. O tema principal foi cantado pela Sissi [Martins], é uma coisa no género da Shirley Bassey e não fica a perder. É um filme que as pessoas, com certeza que se vão divertir muito porque têm muitos actores competentes e com muita qualidade.