Um evento na Casa Branca termina de forma sangrenta e, ao jeito dos clássicos de Poirot, a detetive Cordelia Cupp (Uzo Aduba) não vai deixar sair ninguém sem identificar o responsável. Uma série whodunit que viaja pelos bastidores da casa mais famosa dos EUA e pela sessão parlamentar onde tudo é desconstruído. Veja a review da METROPOLIS, que teve acesso antecipado à série.

O universo Shondaland continua em crescimento na Netflix, desta vez com uma série de mistério protagonizada por Uzo Aduba (Orange Is the New Black, In Treatment). Em «The Residence», que estreou há minutos na Netflix, o homicídio do mordomo-chefe desencadeia uma investigação repleta de reviravoltas, liderada pela peculiar detetive Cordelia Cupp (Aduba). No centro da trama está a Casa Branca, não apenas como pano de fundo, mas também como um espaço cheio de segredos, onde cada funcionário ou convidado pode ser tanto testemunha como suspeito.

The Residence

«The Residence» combina humor mordaz com suspense, apresentando um conjunto de personagens “caricaturais”, desde membros da elite política a funcionários que conhecem cada centímetro da residência presidencial. A narrativa inspira-se (até nos títulos de episódio) em elementos de mistérios whodunit, ao estilo de filmes como «Knives Out» (2019) e «Chamada para a Morte» (1954), tendo presente igualmente uma crítica às intrigas de que vive o poder, garantindo um equilíbrio entre tensão e entretenimento.

Longe do arquétipo tradicional de detetive, Cordelia Cupp distingue-se pelo seu método pouco ortodoxo e por uma abordagem que combina excentricidade, inteligência aguçada e uma alguma falta de filtro. O seu comportamento, por vezes antissocial, não se traduz numa falta de empatia, mas sim numa visão singular do mundo e das pessoas, que a levar a atingir resultados que mais ninguém consegue. Enquanto uns ficam à superfície, ela aprofunda os temas e segue os rumos menos previsíveis.

A sua imprevisibilidade, aliada a um lado intelectual surpreendente, cria uma presença magnética. Nunca sabemos se Cordelia está a testar alguém, se acha que a pessoa é suspeita; se está a seguir uma linha de pensamento concreta ou apenas a lançar o caos para ver onde as peças vão cair. No entanto, à medida que a trama avança, torna-se evidente que, por trás da sua irreverência, há um método claro… ainda que este só faça sentido totalmente no final.

Por sua vez, cada personagem tem um papel fundamental na construção do enredo. A começar pelos funcionários da Casa Branca, que não são meros figurantes, mas sim peças-chave do enigma. Escondem segredos e informações cruciais para a investigação; alguns deles revelam-se aliados inesperados, enquanto outros se tornam obstáculos. O mordomo assassinado (Giancarlo Esposito), por exemplo, não é apenas uma vítima, já que a sua posição dentro da Casa Branca faz dele uma personagem que, mesmo ausente, exerce influência, levando Cordelia a explorar o seu passado e os seus relacionamentos.

Do outro lado, temos políticos e membros da elite, presentes no jantar de Estado onde o crime ocorre. Estas personagens, muitas vezes arrogantes e excessivamente preocupadas com a sua imagem pública, estabelecem um contraste com Cordelia e os restantes. A série explora o lado quase teatral destas personagens: figuras da autoridade que, sob a fachada de poder e intocabilidade, revelam fragilidades, hipocrisia e até mesmo um lado ridículo.

Já Edwin Park (Randall Park), um agente do FBI que se torna o parceiro “acidental” da detetive, introduz uma dinâmica interessante na narrativa. Se Cordelia é caótica e irreverente, Park representa o oposto: um profissional metódico, que segue os protocolos e preza pela ordem. A relação entre ambos torna-se um dos pilares emocionais, refletindo a dualidade da investigação: razão e instinto, ordem e caos, regras e improviso. Mas é na sua união que pode surgir a chave para a solução

Na sua versão multicamadas e camaleónica, «The Residence» desafia as expectativas e entrega uma narrativa que vai além da investigação de um crime. A série expõe o lado teatral do poder e a hipocrisia das elites políticas e sociais, enquanto leva a audiência a questionar até que ponto a verdade é realmente valorizada em ambientes onde as aparências são tudo. A trama, com as suas reviravoltas e personagens imprevisíveis, garante que a audiência se mantém intrigada, enquanto a crítica social e política é construída de forma inteligente. «The Residence» não é, assim, somente um thriller, mas também uma reflexão sobre a sociedade moderna e os dilemas morais que se apresentam em ambientes de poder.

A série conta com nomes como Susan Kelechi Watson, Barrett Foa, Brett Tucker, Kylie Minogue, Mary Wiseman e Ken Marino, entre outros.

ARTIGOS RELACIONADOS
Corpos – já disponível

Chegou às livrarias portuguesas Corpos (Bodies) — DEVIR | 208 pp | 25€ —, de Si Spencer, a obra gráfica que esteve na origem da série Ler +

De Volta a Ação

«De Volta a Ação» é um blockbuster da Netflix com duas mega estrelas que se renovam num action movie com Ler +

As Mulheres do Batalhão 6888

«As Mulheres do Batalhão 6888» é um belo drama histórico com a realização de Tyler Perry e a presença imponente Ler +

Running Point – trailer

Isla, a única irmã de uma família de irmãos, é ambiciosa e muitas vezes esquecida. Mas quando o seu irmão Ler +

Nobody Wants This

A série «Nobody Wants This», da Netflix, entrega uma abordagem leve e cativante ao explorar os desafios de um romance Ler +

Please enable JavaScript in your browser to complete this form.

Vais receber informação sobre
futuros passatempos.