Estão de volta os bonequinhos azuis de boina branca que habitam casas em forma de cogumelo e cantam para espantar o medo do malvado feiticeiro Gargamel. Por cá ficaram conhecidos como “Estrumpfes” (a partir do original “Schtroumpfs”), mas manda a lei do marketing que se troque a extravagância gira da palavra pela sua versão internacional, mais fácil de pronunciar: Smurfs. São, portanto, os Smurfs que estão de volta num quarto filme de produção norte-americana, embora sem relação específica com os anteriores. Talvez por isso o título português «Smurfs: O Grande Filme» nos pareça insinuar que desta vez é que é, esqueçam tudo o que ficou para trás…
E se, honestamente, as aventuras citadinas dos dois primeiros filmes (de 2011 e 2013), que misturavam imagem real com animação, eram bastante limitadas, a variante exclusivamente animada de 2017 («Smurfs: A Aldeia Perdida») teve pelo menos o mérito de devolver os gnomos azuis a uma essência de fantasia que tem que ver com o seu território natural. Algo que «Smurfs: O Grande Filme» também faz, em parte, privilegiando as possibilidades da animação, que aqui serve um argumento ambicioso.

Produzido pela Paramount e assinado por Chris Miller (realizador de «O Gato das Botas»), esta é mais uma aventura tresloucada, típica das noções atuais de filme para a família, mas com uma diferença: não sofre da maleita “diversão vazia”. Ainda que longe da simplicidade fascinante saída da pena de Peyo, o cartunista belga que criou os Estrumpfes no final dos anos 1950, a nova entrada no grande ecrã tira o máximo partido da cor e vida dos desenhos – sente-se essa dimensão artística apurada – e trabalha várias referências com graça, numa espécie de psicadelismo infantil… Imagine-se o “Lucy in the Sky with Diamonds” para crianças.
Começando com um Smurf em crise existencial, por não saber que característica o pode identificar (chamam-lhe “No Name”), em pouco tempo «Smurfs: O Grande Filme» transforma-se numa missão mágica, após o rapto do Grande Smurf pelo irmão de Gargamel, Razamel, que logo terá a seu lado o mano no propósito de atormentar as figurinhas azuis. O que acontece? Smurfina e companhia têm de salvar o universo, e não dispensam banda sonora à medida: sim, Rihanna, e não só, garantem uma sonoridade pop mais ou menos adequada, sendo de um certo “experimentalismo” do imaginário dos Smurfs que se retira o melhor desta viagem; como se se regressasse um pouco ao espírito da palavra Estrumpfe, naturalmente excêntrica. Ou seja, o saldo é positivo, e sempre mais positivo na versão original/legendada.
TÍTULO ORIGINAL: Smurfs REALIZAÇÃO: Chris Miller ELENCO: Rihanna, James Corden, John Goodman ORIGEM: Estados Unidos, Bélgica, Itália DURAÇÃO: 92 min. ANO: 2025

