“A arte existe para que a realidade não nos destrua”, disse o filósofo alemão Friedrich Nietzsche. «Sing Sing» é, no fundo, uma concretização desta ideia. A obra conta a história de Divine G, preso na cadeia de alta segurança Sing Sing, em Nova Iorque, nos EUA, por um crime que não cometeu. Para encontrar algum propósito, participa num grupo de teatro com outros detidos, que se deixam levar pelo poder transformativo da arte.
A narrativa tem base numa poderosa história verídica – o verdadeiro Divine G tem um pequeno cameo na obra, numa interação com o protagonista. O Programa RTA (sigla para “Rehabilitation Through the Arts” ou “Reabilitação através das artes”, em português) existe desde 1996 e reúne os contributos de um grupo de presos para a escrita e produção de espetáculos teatrais. Segundo dados do programa, apenas 3% dos seus participantes voltam para a prisão – a média nacional dos EUA é de mais de 60%.
Ao mostrar uma outra perspetiva de quem está atrás das grades, o filme não destaca o que os levou até lá, mas o que podem fazer a partir dali. É um argumento de grande sensibilidade, enaltecido através de uma realização cuidada de Greg Kwedar, que exalta a humanidade das histórias contadas – o cineasta é também um dos argumentistas da obra.
Não é um ângulo habitual, mas que faz recordar, de certa forma, uma obra famosa de Frank Darabont, «Os Condenados de Shawshank» (1994). Contudo, neste caso, há uma grande diferença (além da abordagem mais crua). Em «Sing Sing», a maior parte do elenco é composta por prisioneiros reais, o que contribui para dar uma ainda maior sensação de realismo.

O melhor exemplo disso mesmo é Clarence Maclin, que aqui revive a sua versão mais jovem, quando interpretou Hamlet numa peça criada pelo programa. Colman Domingo é o ator profissional, com o papel de Divine G a cargo, e entrega uma interpretação grandiosa nos detalhes, emocional e que convence e cativa desde o início. A dupla e química das duas personagens é a base do filme, numa relação aparentemente feita de contrastes, mas que serve também de fio condutor da luta pela resiliência e humanidade.
No filme, as linhas entre realidade e ficção são ténues, trilhando o caminho da redenção através da arte e da partilha de experiências. «Sing Sing» é inspirador sem forçar que tal aconteça, alicerçando-se na força da sua história. E, assim, envolve o espectador, convidando-o a também entrar na peça.
Título original: Sing Sing Realização: Greg Kwedar Elenco: Colman Domingo, Clarence Maclin, Sean San Jose Duração: 107 min. EUA, 2023
[Crítica originalmente publicada a 7 de Fevereiro, 2025]
SING SING
20 de julho | 21h40 TVCine Top
Fotos @Courtesy of Black Bear / Crédito: Dominic Leon