Quer José Padilha – o realizador do celebrado Tropa de Élite, queira ou não este remake será sempre comparado ao original dirigido em 1987 por um fulgurante Paul Verhoeven. A premissa é semelhante, um polícia é traído por colegas corruptos e acaba assassinado. Porém os avanços tecnológicos do enorme conglomerado Omni Corp., vão ‘ressuscitar’ Alex Murphy e usar o que resta do seu corpo para criar o definitivo agente de combate ao crime: o Robocop. Na verdade, o termo correcto seria ciborgue já que o novo agente da polícia de Detroit é na verdade um composto de matéria orgânica e mecanismos cibernéticos, mas decerto Cybercop não soava tão bem. Padilha é particularmente bem sucedido na caracterização dos ambientes urbanos onde se vislumbram uns ténues detalhes de consciência social. No entanto, este é um produto de Hollywood e aqui tudo tem de andar sobre rodas e não fugir ao denominador comum que diz que tem de haver uns quantos tiroteios e explosões a cada quarto de hora. Os tempos são hoje bastante diferentes de 1987 e onde Verhoeven assim que Murphy é assassinado e se torna Robocop ignora por completo a família, Padilha e os seus argumentistas dão-nos uma esposa extremosa e apaixonada e um catraio fofinho – dir-se-ia que o comité que congeminou este aglomerado de clichés procurava apelar ao público feminino, mas não creio que o plano tenha resultado. Onde o filme resulta é nos efeitos especiais, que são consideravelmente superiores aos de há 27 anos, e especialmente na escolha de Gary Oldman como o cientista faustiano responsável pela criação deste novo Golem blindado. Oldman dá ao filme toda uma força e complexidade dramática que falta aos demais protagonistas. E a propósito destes importa destacar o erro de casting que foi a selecção de Joel Kinnaman, repescado da série de TV «The Killing», como Murphy, onde Peter Weller, mesmo com capacete conseguia criar empatia com o espectador graças ao seu humor lapidar, Kinnaman esforça-se mas o seu carisma é igual ao de uma Bimby, o que para muita gente será suficiente. Verhoeven pegou no material e fez uma sátira acérbica às grandes corporações e ao Reaganismo. Padilha fica-se pela reciclagem engalanada com um quarto de século de avanços em CGI, o que é pouco.
Título original: Robocop Realização: José Padilha Elenco: Joel Kinnaman, Gary Oldman, Michael Keaton, Abbie Cornish, Jackie Earle Haley, Michael Kenneth Williams, Samuel L. Jackson Duração: 117 min EUA, 2014
[Texto originalmente publicado na revista Metropolis nº17, Fevereiro 2014]
https://www.youtube.com/watch?v=xPLSpmAtc1Q