Emmanuel Courcol é um realizador francês que assinou nos últimos anos dois estrondosos sucessos junto do grande público, «Um Triunfo» (2020) e agora estreia-se em Portugal com «Siga a Banda!». 

«Um Triunfo» tem conquistado muitos espectadores no cinema em casa. É uma obra completa e cheia de calor humano ao ser baseada num acontecimento verídico ocorrido na Suécia quando um grupo de reclusos, sem experiência de teatro, são motivados pelo seu professor a encenar “À Espera de Godot” de Samuel Beckett”. «Um Triunfo» desenrola-se em França e destila mil e uma emoções. Emmanuel Courcol é um realizador de actores que a partir da representação aliada aos factos é um exímio contador de histórias. 

«Siga a Banda!» é um filme de massas – de grande público – e entende-se perfeitamente a comunhão dos espectadores com esta obra. O filme é uma celebração do valor da família e da comunidade, numa altura onde as grandes empresas da internet querem reduzir a expressão humana através de um algoritmo definindo os nossos gostos na erosão das comunidades reais. «Siga a Banda!» é essa lembrança e abraço do mundo real e aos valores que nos definem como seres humanos através da história de uma pequena aldeia que comunga com a grande cidade, no acontecimento de um irmão cosmopolita que descobre o seu irmão desconhecido na província. E a música apresenta-se como o grande elo entre as pessoas, quando a música sinfónica abraça os acordes da orquestra filarmónica de uma pequena banda representativa dos vários sons e vozes dissonantes que se tornam uníssonas para dar lugar à harmonia (musical e humana). 

«Siga a Banda!» faz-nos rir e chorar, é comovente e fica na retina. Espero que possa ter espaço (entenda-se salas de cinema) para ser exibido em Portugal. Porque a conquista no coração das pessoas é uma garantia, esperando assim criar mais um sucesso junto dos espectadores que vão visionar, amar e espalhar a palavra, veja-se o que aconteceu recentemente com o fenómeno «Ainda Estou Aqui!». Ambos filmes apelam ao sentimento e à nostalgia, sobretudo à humanidade dos seus espectadores.

«Siga a Banda!» fez dois milhões de espectadores em França nessa lógica de comunicar com o grande público em sensibilidades que nos tocam e que reconhecemos nas nossas comunidades. O filme é também um tributo às bandas filarmónicas espalhadas pelo nosso Portugal (e não só) e essa paixão de ensaiar, tocar e confraternizar em torno da música.

A Metropolis entrevistou o realizador às 9 da manhã no day after dos Oscars 2025, uma conversa preciosa que segue a tradição desta revista em oferecer aos seus leitores uma descoberta “behind the scenes”, neste caso, no significado do filme no âmago dos espectadores e do seu autor.

Fica o nosso grande obrigado a Emmanuel Courcol pela harmoniosa entrevista que se segue e pelo seu maravilhoso «Siga a Banda!», em exibição nas salas de cinema. 

[A versão integral da entrevista a Emmanuel Courcol estará disponível na edição 116 da Revista METROPOLIS online a 20 de Março]

Como surgiu a ideia de «Siga a Banda!»?
Emmanuel Courcol:
É uma ideia antiga que já existe há muito tempo. Antes de mais, sempre me interessei pela música clássica. Por isso, sempre tive essa sensibilidade e sempre me interessou o confronto de culturas, que abordei depois, por exemplo, no meu filme «Um Triunfo» [2020], em que vemos pessoas que são actores e encenadores, que vão representar uma peça de Samuel Beckett. E também o aspeto familiar, venho de uma família de irmãos, por isso as ligações entre irmãos é algo muito importante para mim. O meu primeiro filme, «Cessez-le-feu» [2016], era sobre dois irmãos que se reencontram depois da Primeira Guerra Mundial. Diria que estavam reunidos todos os elementos para eu querer contar esta história de uma banda de música e, sobretudo, de dois irmãos que se encontram e, através destes, contamos a história do encontro de dois mundos musicais e de dois mundos sociais também muito diferentes.

Poderia falar sobre importância do casting e a força dos protagonistas? A relação dos dois irmãos e a adição de mais valor nos restantes desempenhos.
Emmanuel Courcol:
Sim, sou particularmente sensível a isto, em primeiro lugar porque sou ator e, para mim, a encarnação determina realmente o sucesso do filme. Aqui está, por exemplo, o papel de Jimmy, interpretado por Pierre Lautin, com quem já tinha trabalhado no meu filme anterior, «Um Triunfo» [«The Big Hit»]. O papel foi escrito, pode dizer-se, para ele. Estávamos mesmo a pensar nele quando escrevemos o papel. Benjamin apareceu um pouco mais tarde e estava de facto à procura de pessoas que pudessem encarnar o seu passado e a sua cultura, de uma forma que já era óbvia. Estas são coisas que pertencem aos actores. Fazem parte da sua vida, da sua personalidade, da sua educação. Para mim, é muito importante que os actores encarnem isto, diria, quase sem esforço, que não tenham de compor algo, mas que sejam realmente a personagem e que se concentrem em algo mais na peça, ou seja, em interpretar as relações certas, as situações e assim por diante. Mas, para mim, digo sempre: procuro o que o ator ou a atriz não tem de representar.

Qual o significado de encontrar histórias que muitas vezes passam ao lado do cinema que poderíamos dizer que, numa primeira instância, estão nas franjas da sociedade? Na realidade estes relatos fazem parte do tecido das sociedades e definem-nos como comunidades, seja numa história de pessoas encarcerados seja a força de uma comunidade através da música.

Emmanuel Courcol: Sim, porque vou contar a vida das personagens. Também contei a história de uma sociedade, também contei a história de uma sociedade. Contar a história de um coletivo é muito importante para mim. Aqui, também me liguei a uma região, a uma cultura, a uma cultura histórica da classe operária que é a da banda de música, a das harmonias musicais e das suas vidas. É verdade que é algo de que não se fala muito, mas que continua a fazer parte das nossas vidas. Percebi que é por isso que o filme teve tanto sucesso, porque fala a muitas pessoas e desperta muitas memórias. Refere-se a uma cultura que está enraizada na sociedade. É isso que posso dizer. Acho que não é só em França, é em toda a Europa e até no mundo. Quando vejo como o filme foi recebido em todo o mundo, é evidente que fala de uma realidade, de uma realidade local.

O filme teve um banho de multidão em França. Estava à espera dessa reação e alguém lhe surpreendeu com alguma mensagem que tenha ficado na memória acerca da experiência de visionar «Siga a Banda!»?

Emmanuel Courcol: Tanto eu como o meu produtor sentimos que o filme era um sucesso, que tinha um bom potencial junto do público. E isso foi verdade logo a partir da projeção no Festival de Cannes, porque a receção foi absolutamente triunfal. Mas, na verdade, não fazia ideia de quem poderia atingir tais números. É uma surpresa agradável. Pessoalmente, se o filme tivesse vendido um milhão de bilhetes em França, teria ficado muito, muito contente.

Ouçam, este é um filme que, antes de mais, provocou uma enorme emoção no público. Senti que o público ficou profundamente comovido. É um filme que os marcou. Muitos disseram-me que voltaram a pensar no filme e, muitas vezes, voltaram para o ver uma segunda vez. Recebi muitas mensagens muito pessoais, porque o filme toca muitas pessoas em diferentes momentos das suas vidas. Houve muitos testemunhos sobre doenças, por exemplo, doação de órgãos, transplantes, mas também tudo o que tem a ver com adoção, segredos de família, música, a sua prática musical, a sua vida em geral. Foi muito comovente.

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