(Publicado no site Cinema 2000, a 20 de Julho de 2006, com o título'Piratas em Loop'
)
Com o sucesso de «Piratas das Caraíbas: A Maldição do Pérola Negra» em 2003, a Disney e Jerry Bruckheimer não perderam tempo nem esforços para desenvolver mais aventuras com o genial capitão Jack Sparrow (Johnny Depp). A urgência de produzir sequelas a partir dos filmes de grande sucesso, aliadas ao fenómeno do franchising no cinema, a meu ver, serão responsáveis pela ausência de originalidade no segundo filme dos «Piratas». Neste capítulo, tudo parece formatado e pouco espontâneo, e o desejo de querer fazer mais nem sempre significa melhor. É indiscutível a grandiosidade desta produção, em que os efeitos e as sequências de acção são entrelaçados com bastante humor na maioria das vezes com Sparrow a fazer piratarias. Todo este pacote de entretenimento não vai desapontar todos aqueles que anseiam apenas o regresso da diversão ao revisitarem os piratas no grande ecrã: «Piratas das Caraíbas: O Cofre do Homem Morto» é cinema espectáculo.
Neste filme, a grande falha reside na falta de química entre os personagens, que no primeiro proporcionava consistência a todo o enredo, e foi um dos motivos que fez surpreender o público e a crítica. No filme de 2006, apesar de existir um espectáculo visual a decorrer perante os nossos sentidos, paira a sensação que estes piratas andam propositadamente à deriva, acabando por navegar em águas já antes navegadas, repetindo a fórmula do primeiro filme.

Não há grandes reparos a fazer à realização de Gore Verbinski. Não compromete o filme a nível de realização e utiliza todos os meios disponíveis para criar quase duas horas e meia de diversão. O custo desta produção é rentabilizado com o prazer que este filme vai dar a todos que o visionarem. Existe uma grande atenção para todos os pormenores no filme: o guarda-roupa, os cenários, o trabalho de fotografia (característica cada vez mais distinta na realização de Verbinski), e a assimilação dos CGI (imagens computorizadas) com a imagem real. O melhor exemplo deste último factor é o vilão de «O Cofre do Homem Morto» um personagem interpretado por Bill Nighy, que se não faz esquecer o anterior vilão Geoffrey Rush, está extremamente bem caracterizado e comanda uma tripulação de piratas muito sui generis.
Infelizmente, não vai existir a cereja em cima do bolo, como ocorreu no primeiro filme. O personagem Jack Sparrow, personificado no grande ecrã por Johnny Depp, e que em 2003 se revelou com este papel como um candidato aos Óscares, surge agora aos bocejos durante o filme. Nem sempre é um pirata genial, mas mesmo assim continua a ser o mais engraçado de todos os intervenientes; Orlando Bloom continua a não convencer sem as orelhas postiças de elfo; e Keira Knightley continua a crescer no cinema e neste filme merecidamente tem um papel mais extenso.

Apesar do atropelo aos personagens na procura de apresentar obra feita, «Piratas das Caraíbas – O Cofre do Homem Morto» acaba por reembolsar com mérito próprio a sua factura bem cara. Aliás, pela altura da estreia nacional, o filme já tinha derrubado alguns recordes de bilheteira nos Estados Unidos. Interessa ressalvar a tendência para as “novas” trilogias: após um primeiro filme de grande sucesso, são produzidas sequelas que mais parecem um episódio dividido em duas partes, casos de «Matrix», «Star Wars I a III» e «Piratas das Caraíbas», do que realmente três filmes que formam uma grande trilogia («O Senhor dos Anéis» ou «Star Wars IV a VI»). Daí que fique uma certeza: o blockbuster deste Verão sacrifica a originalidade face ao entretenimento para agradar ao público mais generalista.
Título original: Pirates of the Caribbean: Dead Man`s Chest Realização: Gore Verbinski Elenco: Johnny Depp, Orlando Bloom, Keira Knightley, Bill Nighy, Stellan Skarsgård, Jack Davenport, Kevin McNally, Naomie Harris, Jonathan Pryce, Tom Hollander, Lee Arenberg, Mackenzie Crook, David Bailie, Martin Klebba Duração: 151 min. Estados Unidos, 2006