O REINO DO PLANETA DOS MACACOS

O REINO DO PLANETA DOS MACACOS

Cada vez mais próximo da apoteótica pancada na areia de um chocado Charlton Heston no clássico de ficção científica que por cá recebeu o estranho título de «O Homem que Veio do Futuro» (1968), esta saga iniciada em 2011 como uma suposta genesis ao conceito “Planeta dos Macacos” desliza pelo brilharete cumprido por Matt Reeves nas prequelas que seguiram. Agora com assinatura de Wes Ball, em tempos responsável pela transcrição da literatura juvenil distópica “Maze Runner”, seguimos gerações foras e sem Caesar – o carismática e empático líder da macacada extraindo da alma e do físico de Andy Serkis – vislumbrando neste lapso temporal uma Terra que parece ter recuperado da pegada antropocentrista e os símios, agora vivendo num proto-sociedade utópica, interligam o melhor que tem com a natureza e as reminiscências de uma longínqua civilização humana cujos antepassados tiveram contacto. É a Apetopia com sinais do seu término, como manda as narrativas conflituosas e aristotélicas, até porque a paz é um conceito de impossível alcance e desta feita são primatas contra primatas seguindo uma ordem de esterilização de um certo paganismo. «O Reino do Planeta dos Macacos» aventura em novas odes e horizontes, mas revela-se mais inapto em seguir as pegadas dos seus anteriores capítulos, mesmo que as seivas oleadas deixadas pelas narrativas passadas encarregam de trazer alguma gravitas ao conto peludo. Porém, há que referir a condição do realizador “tarefeiro”, mantendo essa senda, mesmo que Ball não seja tão manobrável e intelectualmente criativo que Reeves, mas não deixam de ser não-autores encarregues de uma franquia que nesta estância aproxima-se, e muito, do rebuscado que os filmes de J. Lee Thompson assumiram enquanto sequências da adaptação do livro de Pierre Boulle. Esta nova geração de «Planetas dos Macacos» são fruto (e bem sumarento) da máquina orquestrada de Hollywood, o sistema industrial sem descanso. Só que falta Andy Serkis, e desta feita uns efeitos visuais mais arrebitados dos que são aqui apresentados, e além disso existe uma ausência de alegoria que os ditos “A Revolta” (2014) e “A Guerra” (2017) usufruíram com esplendor. Mesmo com as suas recaídas, prossegue a sua narrativa com algum espanto sociológico, e mantendo aquilo que nós, humanos, sempre fomos seduzidos mesmo não admitindo, o Fim da raça humana, e a essência da nossa Humanidade, seja política, ideológica e social, praticada mesmo com a nossa extinção. Por fim, como é esperado há promessas de mais sequelas, só que a prova de fogo é a de um blockbuster que não envergonha os seus propósitos, apenas subjuga-se à sombra de um dos mais debatidos exemplares da grande produção hollywoodesca dos últimos tempos.

Título original: Kingdom of the Planet of the Apes Realização: Wes Ball Elenco: Freya Allan, Kevin Durand, Dichen Lachman, William H. Macy Duração: 145 min. EUA, 2024