Machado de Assis (1839-1908) defendia a hipótese de que os números são mais confiáveis do que as pessoas pois “eles não comportam metáforas”. Assim sendo, a equação numérica em torno de «O Auto da Compadecida 2» é de uma confiança inquestionável, com cerca de 4 milhões de ingressos vendidos, do Natal de 2024 até fevereiro de 2025.  As salas de exibição onde a longa-metragem de Flávia Lacerda e Guel Arraes está em cartaz, no seu país natal, estão lotadas. Quem riu ali destas personagens, regressa para rir de novo.

«O Auto da Compadecida 2» foi um belo presente audiovisual do cinema brasileiro para a sua nação, faz rir… e muito, mas também sabe comover. Usa a boa-disposição entre João Grilo (revisitado por Matheus Nachtergaele numa atuação luminosa) e o seu melhor amigo, Chicó (Selton Mello, arrebatador), para disfarçar aquela torrente de ternura que só as amizades verdadeiras despertam: “Entrou uma coisinha aqui no meu olho…”. Nalguns momentos, a plateia vai sentir essa tal coisinha no olho ao rever dois personagens que se tornaram síntese viva do olhar pícaro do dramaturgo Ariano Suassuna (1927-2014), criador dessa dupla de heróis maltrapilhos. Foi em 1956 que os palcos do Brasil conheceram Grilo, numa peça repleta de referências ao fabulário ibérico, com alicerces fincados em arquétipos de séculos passados, inclusive da Idade Média. Em 1999, Guel levou as aventuras criadas por Ariano à TV, como uma minissérie na Globo. Adaptou-a para um formato de longa, de olho no grande ecrã, cerca de dois anos depois. Hoje na Globoplay, o filme «O Auto da Compadecia» contabilizou 2.157.166 ingressos vendidos.

Espera-se mais (bem mais) da parte dois, engenhosamente fotografada por Gustavo Hadba, a julgar pelas reações entusiasmadas que a produção gerou na sua exibição na Comic-Con Experience (CCXP), no início do mês. A espera se confirma em soluções narrativas hilariantes. O filme foi escrito por Guel e João Falcão, com a colaboração de Adriana Falcão e Jorge Furtado, «O Auto da Compadecida 2» desenrola-se vinte anos depois do original e mostra a pacata rotina de Chicó (Selton) no sertão nordestino, onde vive da venda de santinhos de madeira, a contar o causo da ressurreição de João Grilo (Nachtergaele). O seu grande amigo não dá notícias há duas décadas e Chicó acha que ele morreu novamente, até o dia em que João reaparece vivinho da silva e cheio de planos mirabolantes, que vão virar o Nordeste de cabeça para baixo, a meio de uma campanha política que envolve um coronel (Humberto Martins) e um radialista (Eduardo Sterblitch). Dona Rosinha (Virginia Cavendish) está também de volta, assim como a Nossa Senhora, a Compadecida, encarnada por Taís Araujo.

Destaque do elenco de dois dos mais importantes filmes brasileiros da História – «Central do Brasil», de 1998, e «Cidade de Deus», de 2002 -, Nachtergaele e Selton transformam esse retorno ao dia a dia de Taperoá (a cidade imaginária de Ariano) numa celebração da arte e de (saber) ser amigo.

Título original: O Auto da Compadecida 2  Título internacional: A Dog’s Will 2 Realização: Guel Arraes, Flávia Lacerda Elenco: Matheus Nachtergaele, Selton Mello, Taís Araújo, Humberto Martins Duração: 104 min. Brasil, 2024

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