Esta é a história de Diana Nyad, uma nadadora americana que alcançou grandes títulos de natação, tendo-se sagrado, inclusive, campeã mundial de natação. Depois de ter deixado a competição, dedicou-se ao jornalismo e comentários de desporto. Agora, prestes a completar 60 anos, recupera um desafio que tentou ultrapassar quando tinha 28 anos: nadar, durante 60 horas ininterruptas, os 161 quilómetros que separam Havana (Cuba) de Key West, na Flórida (EUA). Mais de trinta anos depois da primeira tentativa falhada, Nyad (Annette Benning) consegue convencer a melhor amiga, Bonnie (Jodie Foster) a treiná-la e, juntas, seguem rumo a Cuba, onde formarão a equipa de apoio a este projeto.
São cinco as tentativas de Nyad – um nome que significa, na mitologia grega, “as ninfas que nadaram nos lagos, nos rios ou nos mares” –, para alcançar este feito, que enfrenta obstáculos tão assustadores como tubarões, caravelas portuguesas, alforrecas e outras criaturas marinhas que nem imaginamos que existem. Além da resistência natural de um corpo de 60 anos, é na sua mente que Nyad encontra as suas maiores barreiras, mas também a sua determinação para não deixar de seguir o seu sonho. Mas até onde pode ir este sonho?
A dupla de realizadores (responsáveis por «Free Solo», 2018) vão construindo a cronologia da vida desta mulher determinada, recorrendo a vários flashbacks para entendermos de onde vêm os maiores fantasmas, mas também as crenças mais vincadas para que Nyad não desista dos seus sonhos e leve tudo e todos atrás dessa missão.
As veteranas Annette Bening e Jodie Foster comprovam o seu estatuto único na arte de representar. Tudo é fluído e intenso, como se estivéssemos a viver a história da “verdadeira” Nyad em tempo real. Rhys Ifans é igual a si próprio e dá-nos aquilo a que já nos habituou: a personagem carismática, teimosa, mas fraterna, que nos faz acreditar que tudo vai correr bem se ele estiver ao leme. O filme não precisa de muito mais do que estas três personagens, para que as duas horas de duração valham a pena. É um biópico, sobre algo que deveria comandar a vida de todos nós: o perseguir um sonho, contra todos os obstáculos e falhanços, sabendo que, lá no fundo, um dia vamos conseguir.
«Nyad» segue sem grandes surpresas para quem conhece a história da maratonista de águas abertas, mas fá-lo de uma forma competente e emocionante, enquanto torcemos para que Nyad consiga concretizar os seus objetivos alucinantes. Com desempenhos irrepreensíveis de Annette Benning e Jodie Foster, que lhe podem valer nomeações aos principais prémios da temporada, uma banda sonora muito bem selecionada pelo incrível Alexandre Desplat e a forma como os realizadores integram os momentos de alucinação da nadadora, «Nyad» não desilude na missão de entretenimento da plateia, mas o que fica além da recreação, é algo mais profundo.
A certa altura, Nyad lê um poema de Mary Oliver e a personagem interroga-se sobre o que fazer neste tempo de vida que lhe resta até ser “um saco de ossos”. “O que mais deveria ter feito? Não morre tudo, por fim, e demasiado cedo? Diz-me o que planeias fazer com a tua vida única, selvagem e perigosa?” A verdade é que todos nós queremos viver uma vida marcante e aproveitá-la de forma livre e sem receios, mas nem sempre estamos disponíveis para o sacrifício e a resistência necessários.
«Nyad» é sobre a vida de Diana Nyad e da forma como não desistiu do seu sonho, mas é ainda mais sobre a importância do apoio de uma equipa, sobre os laços e a empatia que nos unem enquanto seres humanos, sobre os fantasmas do passado que nos definem, atrasam e fazem avançar, mas, e sobretudo, é sobre o poder, a magia e o grande amor que nutre e sustenta uma verdadeira amizade.
Título original: Nyad Realização: Jimmy Chin, Elizabeth Chai Vasarhelyi Elenco: Annette Bening, Jodie Foster, Rhys Ifans Duração: 121 min. EUA/Cuba/República Dominicana, 2023
[Texto publicado originalmente na Revista Metropolis nº100, Dezembro 2023]
https://www.youtube.com/watch?v=3anCgVSQb3Q