Ser-se um realizador com a filmografia de Woody Allen pode ser um problema: há tantos e tão maravilhosos filmes na sua obra que, inevitavelmente, alguns não chegam a ser espantosos, são só divertidos mas pouco marcantes. Não é que sejam medíocres em absoluto, só o são quando comparados com o que está para trás na percurso do cineasta. Na última década, vimos um desses exemplos em «Scoop» e voltamos agora a viver uma experiência semelhante com «Magia ao Luar».
No filme, Colin Firth interpreta o papel do celebrado mágico chinês Wei Ling Soo, que é na verdade a criação de Stanley Crawford, um inglês resmungão, céptico e obcecado pelo trabalho. Stanley é desafiado por um velho amigo para desmascarar uma vidente com poderes inacreditáveis que deixou de beicinho uma abastada família. Ela é Sophie Baker, o papel que marca a estreia de Emma Stone aos comandos de Woody Allen (a actriz vai aliás participar de novo no seu próximo filme). Claro que o muito racional Stanley vai rapidamente ver as suas crenças abaladas pelos talentos da jovem.
«Magia ao Luar» traz-nos, como não pode falhar num filme de Allen, uma escrita deliciosa que, consegue mostrar em cenas pontuais o génio máximo do cineasta mas que nem sempre mantém o mesmo ritmo nem nos agarra a cada momento. Dá-nos também fantásticas interpretações. Primeiro prémio para Colin Firth, fantástico como uma espécie de Professor Higgins para a Eliza de Emma Stone, papel com direito a uma menção e que prova que a actriz pode ter futuro como nova musa do realizador.
Mas a película é Allen no seu modo “90 minutos de diversão e eficiência que podem ser esquecidos à saída da sala de cinema”. Não é suficientemente memorável, apesar de ser muito competente. Mas, aos 78 anos e a fazer um filme por ano damos a Woody Allen o direito de se divertir como lhe apetece. Nós continuaremos a divertir-nos com ele. Inês Gens Mendes
Título original: Magic in the Moonlight Realização: Woody Allen Elenco: Colin Firth, Emma Stone, Hamish Linklater, Marcia Gay Harden, Jacki Weaver Duração: 97 minutos EUA, 2014
[Texto originalmente publicado na revista Metropolis nº21, Setembro 2014]
https://www.youtube.com/watch?v=nzcPdGxuewU