Page 165 - Revista Metropolis nº122
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Na verdade, este filme inscreve-se num género muito   a ser usada como um autêntico hino ao sucesso de
            querido da indústria americana, o crime thriller, e   um grande empresário musical, um afro-americano
            neste caso abre o jogo com uma espécie de cenário de   que não esconde os sinais exteriores de riqueza. Mas
            conto de fadas para adultos que não dispensa o look   a fome de poder e dinheiro não se extingue como
            e o estilo melodramático do “Era Uma Vez”. Senão   o pavio de uma simples vela, antes pelo contrário,
            vejamos: durante o genérico inicial, coadjuvado por   renasce constantemente. Por isso ele procura uma nova
            um primeiro e muito vibrante exemplo do que será a   oportunidade para regressar em força e reforçar ou
            incisiva banda sonora musical (cuja análise daria por si   revalorizar os anos de ouro e os ecos de êxitos passados
            só uma crítica paralela a esta que aqui vos proponho),   que lhe valeram o conforto financeiro que ostenta
            ouvimos uma canção que glorifica o bem-estar pessoal   com satisfação. Uma personagem plena de confiança
            e louva o que de mais belo podemos usufruir no mundo   cujo lema podia ser, no contexto da sua Stackin’ Hits
            que nos rodeia. Trata-se da composição “Oh, What   Records, “All the sounds of the earth are like music”
            a Beautiful Morning”, cujo refrão aqui recordamos:   (Todos os sons da Terra são música), verso extraído da
            “Oh, what a beautiful mornin' / Oh, what a beautiful   citada canção inicial. Entretanto, pouco a pouco vamos
            day / I got a beautiful feelin' / Ev'erything's goin'   percebendo que algo pode mudar e que a sonoridade
            my way”. Seguramente, quer o compositor Richard   encantatória e luminosa dessa “Beautiful Morning”
            Rodgers, quer o letrista Oscar Hammerstein II, nunca   podia afinal prenunciar, por contraste, as batidas
            pensaram que a inspiração romântica da sua melodia   negras e subterrâneas do rap e de um vasto conjunto de
            (pensada para o palco e para o grande ecrã e para   sonoridades que irão assaltar e virar do avesso a vida
            um clássico do musical, “Oklahoma!”) pudesse vir   e a carreira de David King (Denzel Washington, no



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