Page 162 - Revista Metropolis nº122
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THE LONG WALK
- O DESAFIO
TÍTULO ORIGINAL
The Long Walk
REALIZAÇÃO
Francis Lawrence
ELENCO
Cooper Hoffman
David Jonsson
Mark Hamill
ORIGEM
Estados Unidos
DURAÇÃO
108 min.
ANO
2025
«The Long Walk - O Desafio» (2025) chega como uma corpo e no rosto com uma crueza desconfortável.
das adaptações mais aguardadas da obra de Stephen Este registo permite ao espectador sentir não apenas
King, assinada por Francis Lawrence (Hunger Games), o peso da distância percorrida, mas sobretudo o
realizador habituado a lidar com mundos distópicos. colapso psicológico que acompanha a caminhada. É
O filme parte de uma premissa simples, mas brutal: nesta dimensão humana que o filme encontra a sua
uma marcha sem fim, na qual dezenas de jovens são verdadeira força dramática.
obrigados a caminhar até ao limite da resistência,
sob pena de execução imediata se abrandarem três Visualmente, «The Long Walk - O Desafio» (2025)
vezes num determinado período. Mais do que uma assume uma tonalidade sem brilhos, quase
competição macabra, a narrativa ergue-se como monocromática, que traduz a monotonia sufocante
metáfora de poder, obediência e da forma como da estrada interminável. A fotografia privilegia
sociedades autoritárias transformam vidas em horizontes vazios e enquadramentos repetitivos, que
espetáculo. Desde o primeiro momento, a tensão funcionam como espelho do desgaste psicológico:
instala-se e a promessa de entretenimento colide com quanto mais a paisagem se repete, mais a mente
a angústia visceral que acompanha cada passo. dos participantes se fragmenta. O desenho sonoro
reforça essa claustrofobia – o ritmo dos passos, o
O foco recai menos na grandiosidade do cenário som cadenciado da respiração e os disparos secos que
e mais na intimidade com os concorrentes. Cada marcam cada eliminação instalam-se como parte de
jovem é revelado de forma gradual, através de uma banda sonora inquietante. A ausência de música
olhares, diálogos breves e reações ao desgaste físico em muitos momentos parece ser deliberada, deixando
que se acumula quilómetro após quilómetro. As espaço para o silêncio desconfortável que se cola à
interpretações recusam o exagero e apostam numa pele do público, obrigando-o a partilhar a mesma
contenção realista, onde a fadiga se imprime no exaustão de quem caminha.
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