Page 159 - Revista Metropolis nº122
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THE SMASHING
MACHINE-
CORAÇÃO DE
LUTADOR
S
TÍTULO ORIGINAL
The Smashing Machine
CA
REALIZAÇÃO
Benny Safdie
ELENCO
Dwayne Johnson
Emily Blunt
Ryan Bader
ORIGEM
TI
EUA, Japão, Canadá
DURAÇÃO
123 min.
ANO
2025
CRÍ
@2025 A24
Benny Safdie levou para Veneza um murro no
história. Pena que o filme não lhe dê mais espaço: tal
CRÍ estômago. Não foi um nocaute, mas também não como no mundo do UFC, aqui também os homens
ocupam todo o ringue.
foi uma amena simulação de luta: «The Smashing
O problema é que Safdie fica dividido entre duas
Machine – Coração de Lutador» é um daqueles filmes
vontades: a de filmar a queda de um homem e a de
que nos deixa zonzos, como quem apanha um direto
no queixo sem aviso. Dwayne “The Rock” Johnson
agradar à plateia de fãs do MMA. O drama íntimo
nunca chega a superar o peso da pancadaria, e o clímax
veste a pele (e os ossos partidos) de Mark Kerr, um
TI
no combate contra o amigo-rival Mark Coleman
verdadeiro campeão de MMA que descobriu, da pior
maneira, que até os homens-montanha podem ruir
fica aquém da tragédia anunciada. Não há aqui a
como castelos de cartas.
loucura operática de «Foxcatcher» nem a intensidade
Safdie já tinha mostrado talento para filmar o caos
sufocante de «The Iron Claw». O que existe é um
chora sozinho no balneário, enquanto um funcionário
(Netflix 2020), mas aqui troca a vertigem urbana
CA em «Good Time» (LEEFEST 2025) e «Uncut Gems» retrato cru, por vezes comovente, de um gigante que
pela claustrofobia do ringue. É um filme sobre a
do catering hesita em partilhar o elevador com ele.
Safdie ganhou o Leão de Prata de Melhor Realização,
masculinidade em colapso, sobre o vazio que sobra
quando o corpo falha e a plateia já não grita o nosso
e percebe-se porquê: filma os corpos como se fossem
paisagens em ruínas, a dor como se fosse um close-
nome. Mark Kerr perde, e essa derrota é mais
devastadora do que qualquer fractura exposta: perde o
up inevitável. Mas falta-lhe a coragem de levar o
mito, a aura, o lugar no altar dos invencíveis.
drama até ao limite. Ficamos a meio caminho entre o
S super-herói musculado, surpreende. Esconde-se na luta e outro na novela conjugal.
documentário ficcional e a tragédia grega, com um pé
Johnson, normalmente refém da sua persona de
No fim, «The Smashing Machine-Coração de Lutador»
atrás de próteses, cabelo encrespado e uma aura
não é o murro no estômago que poderia ter sido, mas
de fragilidade que ninguém lhe reconhecia. Por
ainda assim deixa marca. E prova uma coisa rara:
momentos, parece menos uma estrela de Hollywood
Dwayne Johnson consegue, finalmente, ser mais do
e mais um tipo à deriva, perdido entre opiáceos,
crises de raiva e um romance que ameaça implodir.
Emily Blunt, como Dawn, a namorada que aguenta
convenhamos, dói mais do que qualquer golpe no
ringue. JOSÉ VIEIRA MENDES
a tempestade, oferece a única âncora emocional da que músculo e carisma. Consegue ser humano e isso,
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