Page 160 - Revista Metropolis nº122
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COM A MÃO NA
               ALMA CAMINHA



               TÍTULO ORIGINAL
               Put Your Soul on Your Hand and
               Walk
               REALIZAÇÃO
               Sepideh Farsi
               ELENCO
               Fatima Hassona
               ORIGEM
               França
               DURAÇÃO
               113 min.
               ANO
               2025























            “Tudo é político, até o acto de lavar os dentes é   a realizadora encontra o seu cinema. Encontra-o
            político.”, Philip Roth em American Pastoral,     nas videochamadas com a palestiniana Fatima
            uma daquelas frases que me acompanham             Hassona, jovem de 24 anos em Gaza, com paixão
            e o qual cito, sim, por conveniência, mas         pela fotografia, cujo trabalho surge intermitente
            constantemente também para sublinhar que          a interromper os diálogos. Farsi viaja pelo mundo
            a crítica de cinema é tudo menos apolítica.       a exibir o seu, na altura, mais recente projecto
            Portanto, escusam-se os lamentos charlatões       («La Sirène»); Hassona, pelo contrário, suspira
            de “agora, tudo é política!” [fazer voz grossa    por sair do seu pequeno canto devastado pelas
            e bronca]. É impossível distanciar-se disso,      operações-relâmpago israelitas, pelos drones,
            sobretudo quando falamos de «Com a Mão na         pelos barulhentos apaches. Deseja conhecer aquilo
            Alma Caminha», da iraniana Sepideh Farsi. É       que Farsi experimenta, o “mundo lá fora”,  ao
            um filme do presente, deste tempo, do novo, da    invés disso, sempre munida de um sorriso, fala
            Palestina, esse teste à Humanidade que falhamos   da sua condição, da fome, do vizinho morto, tal
            grosseiramente. Não há aqui vanguarda estética,   como toda a família dele. Mas o sorriso nunca
            cinematográfica, conceptual ou sequer linguística:   desaparece, para desconforto da realizadora, que
            é na simplicidade da forma e da abordagem que     insiste em romper com a “normalidade” reclamada











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