A missão era simples: reformar-se em paz. Só que «FUBAR» prefere voltar ao serviço na Netflix, com um pé no clássico de ação e outro na comédia familiar, numa fórmula que não surpreende, mas entretém de forma competente. E traz um bónus na T2: Carrie-Anne Moss.

Depois de uma estreia que conquistou pelo ritmo leve e pela química inesperada entre ação e comédia familiar, «FUBAR» regressa para uma segunda temporada com a mesma identidade: entretenimento acessível, personagens carismáticas e um enredo que, sem ambições de grande profundidade, aposta na consistência e no dinamismo. Arnold Schwarzenegger volta como Luke Brunner, um espião veterano em contagem decrescente para a reforma, agora forçado a enfrentar uma vida dupla que já não pode esconder.

A nova temporada arranca precisamente onde a anterior nos deixou: com Luke e Emma (Monica Barbaro, agora com uma nomeação aos Óscares no bolso) finalmente a lidarem com as consequências da revelação mútua, mas não só. Não são apenas eles que conhecem a verdade: a identidade dos agentes foi exposta a familiares e pessoas próximas, bem como a inimigos, o que eleva a pressão e fragiliza a já instável rede de confiança à sua volta. A missão ganha contornos mais íntimos e delicados, obrigando a equipa a trabalhar sob escrutínio e vulnerabilidade. A entrada de Greta Nelso (Carrie-Anne Moss), espiã com laços ao passado de Luke, complica ainda mais a equação, forçando-o a confrontar o que deixou por resolver.

Se na primeira temporada o segredo era o motor narrativo – a tensão constante entre vida pessoal e vida profissional –, a segunda inverte o jogo: agora, é a exposição que gera fricção. E, se antes o foco era essencialmente pessoal, a série expande a escala e introduz uma ameaça com ambições globais. Uma figura enigmática emerge com um plano meticuloso: causar apagões em massa e reestruturar a ordem mundial à custa de milhares de vidas. É uma ameaça que joga com o medo do colapso digital e da fragilidade dos sistemas que sustentam a rotina mundial.

Esta viragem permite a «FUBAR» experimentar um tom mais tenso, a roçar a conspiração, sem perder o seu ADN leve e acessível. A presença constante de um inimigo invisível, bem como a possibilidade de haver um traidor dentro da própria equipa, introduz um tipo de urgência e paranoia que acrescenta densidade à trama, mesmo quando esta continua envolta em humor e trocadilhos à la Schwarzenegger.

Por seu lado, a entrada de Greta Nelso traz um peso novo ao universo de FUBAR. Ao contrário de muitas personagens secundárias “acidentais”, Greta vem com passado, envolta em mistério e com uma ligação direta ao protagonista que a série explora com relativa subtileza. Velha conhecida de Luke, Greta não é apenas mais uma peça no tabuleiro: funciona como espelho e contraponto, obrigando o espião veterano a confrontar a vida que deixou para trás, tanto a nível pessoal como profissional. Carrie-Anne Moss imprime autoridade e profundidade à personagem, sem abdicar da ironia ou da presença física que a tornaram icónica noutras obras.

Ainda que não arrisque em grandes reviravoltas narrativas nem na reinvenção do género, «FUBAR» sabe perfeitamente o que está a fazer. A série mantém-se firme na sua proposta de entreter sem complicar, de misturar ação com laços familiares e de dar palco a um Schwarzenegger que, longe de tentar provar algo, parece finalmente à vontade a brincar com a própria lenda. A química entre o elenco, o ritmo dos episódios e a leveza com que tudo se desenrola tornam esta segunda temporada fácil de ver; e, talvez por isso, eficaz naquilo a que se propõe.

No fim, «FUBAR» continua a ser aquilo que sempre foi: uma série que não quer reinventar a roda, mas apenas mantê-la a girar com energia, humor e algum charme nostálgico. A segunda temporada acrescenta tensão e novos rostos sem perder o espírito original, e isso basta para quem procura uma escapadinha televisiva descomplicada, com ação bem medida e diálogos que, mesmo quando previsíveis, cumprem o seu papel.

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