Originário de Cuiabá, uma das cidades mais quentes (e, outrora, uma das mais violentas) de todo o Brasil, Bruno Bini levou seu estado, o Mato Grosso, no Centro-Oeste da sua pátria, para o epicentro das apostas acerca dos potenciais vitoriosos do Festival de Gramado de 2025. «Cinco Tipos De Medo» é uma narrativa crepuscular estruturada no dispositivo dramatúrgico do “filme coral”, aquele em que vários núcleos de personagens, autónomos, colidem.

“O registo do thriller social mostra que é possível entreter com filmes que levantam temas relevantes. Não me alinho a filmes em que a violência urbana vira mera paisagem, como se estivéssemos imunes a ela. A vida acontece à mercê da sorte”, explica o realizador de 47 anos, antes conhecido por «Loop» (2019), que se diz um ávido consumidor de filmes de ação.

Último (e mais convulsivo) das seis longas-metragens de ficção em concurso em Gramado, «Cinco Tipos De Medo» foi o único a ganhar ovação na disputa pelo troféu Kikito de 2025 – a ser entregue no sábado. O filme teve direito a gritos de “Bravo!” O que se sabia do filme de Bini era a presença de Bella Campos, a Maria de Fátima do remake da novela «Vale Tudo», hoje no ar na TV Globo e no streaming Globoplay). Se alguém duvidava da sua potência, essa dúvida caiu por terra à luz de um sorriso que leva esperança a um campo minado a céu aberto, na delicada atuação dele sob a realização de Bini [foto abaixo].

“Quando eu saí de Cuiabá para correr atrás da sorte, não acreditava que seria capaz de viver da profissão e, hoje, estou aqui”, disse Bella.

Ligado a uma genealogia latino-americana que remete à fase inicial do mexicano Alejandro González Iñarritu, em seus tempos de «Amores Peros» [«Amor Cão», em Portugal e «Amores Brutos», no Brasil] (2000), «21 Gramas» (2003) e «Babel» (2006), «Cinco Tipos De Medo» vai e volta nos fatos que narra a fim de dar a eles múltiplas camadas de informação. Há uma sequência em que Murilo, um violinista enlutado após a covid (vivido por João Vitor Silva), usa uma pistola alemã da I Guerra, mesmo sem saber atirar, a fim de se defender de um ataque armado. Os corpos que tombam parecem ser um fruto do Acaso em prol dele. Veremos mais adiante que não.

“O Fator de Cura (poder do mutante da Marvel) é o que me interessa ao falar de Wolverine. Eu tive covid e, quando estava internado, tudo o que eu queria era ter um poder desses”, diz o realizador. O ‘Cinco Tipos’ é o registro de uma Cuiabá que cresceu muito. É um filme pensado regionalmente e executado com parcerias nacionais”.

Fã de Wolverine, Murilo se envolve com Marlene (papel de Bella), uma enfermeira presa a um relacionamento abusivo com o traficante Sapinho (Xamã, um titã em cena). As angústias deles cruzam as de Luciana (Bárbara Colen), agente policial em cruzada de fazer justiça por conta própria, e de Ivan (Rui Ricardo Dias), um advogado com intenções ocultas. São cinco vidas aparentemente desconectadas e elas colidem num caminho sem volta, numa cartografia de desamparos enquadrada na direção de fotografia dionisíaca de Ulisses Malta Jr.

“Acredito que haja espaço para filmes de gênero no Brasil, desde que eles tenham qualidade a oferecer ao público”, diz Bini.

Gramado termina neste sábado. «Cinco Tipos De Medo» dispara como seu favorito. 

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