O cinema de catástrofe raramente se foca na ameaça em si – mais do que o colapso do mundo, interessa-se pelo colapso íntimo dos seus protagonistas. Em «Eterno», o dinamarquês Ulaa Salim abraça este molde. A fenda no fundo do mar, que cresce a um ritmo alarmante e ameaça engolir continentes inteiros, é uma metáfora óbvia – e bastante martelada – para as fissuras emocionais que separam Jonathan da sua companheira, Anita.
Como tantas outras figuras deste género, Jonathan é um homem focado no trabalho, incapaz de lidar com o quotidiano, a intimidade ou a responsabilidade familiar. Só perante a possibilidade do fim é que encontra motivação para se reerguer e procurar reconectar com aqueles que ama. Esta narrativa não é nova, e «Eterno» pouco faz para inovar. Jonathan, o engenheiro naval interpretado com contenção por Simon Sears, encarna o arquétipo do homem contemporâneo em crise: distante, sobrecarregado, emocionalmente ausente. É preciso que o mundo comece literalmente a desabar para que ele encontre uma razão para agir e, nesse movimento, uma hipótese de reconciliação com um passado (necessariamente) idealizado.
Salim recorre ao género para falar de intimidade, afastamento e fragilidade masculina. A ameaça geológica permanece quase sempre fora de campo, sentida mais do que vista, funcionando como espelho simbólico da derrocada interior do protagonista. O problema é que o filme insiste tanto nesta metáfora que acaba por a tornar previsível, quase exaustiva. A viagem interior de Jonathan, que poderia ser subtil e comovente, desenrola-se de forma demasiado linear e pouco interessante.
A realização é contida, falta-lhe fôlego para elevar a narrativa acima dos lugares-comuns do género. A metáfora central – a fenda como extensão do vazio interior – é sublinhada com insistência, como se o realizador não confiasse na inteligência emocional do espectador. Mas o filme nunca se entrega verdadeiramente ao mistério ou à ambiguidade. Tudo está demasiado explicado, demasiado alinhado com uma lógica simbólica que se impõe mais do que se insinua. «Eterno» tenta fugir ao espectáculo fácil, preferindo a introspecção à explosão. Só que, ao fim de algum tempo, essa contenção transforma-se em monotonia. A fenda, essa imagem tão carregada de potencial, acaba por se tornar um buraco narrativo, mais decorativo do que revelador.
Título Original: For Evigt Título internacional: Eternal Realização: Ulaa Salim Actores: Simon Sears, Nanna Øland Fabricius, Anna Søgaard Frandsen Duração: 103’ Ano: 2023 Origem: Dinamarca