Só se falava da presença do americano Quentin Tarantino no Rendez-vous de Cannes com Robert De Niro, na quarta-feira, mas um titã da França nas telas, hoje com 87 anos, estava também lá: Claude Lelouch. Ele não tem filmes novos a competir este ano, embora tenha uma nova longa com Kad Merad, «Finalement, Ça Ne Finira Jamais», já em produção. Mesmo sem ter algo pronto para mostrar na Croisette, o veterano cineasta tatua as paredes do Palais des Festivals e uma série de placas por toda a estância balnear com uma imagem do seu filme mais icónico, «Um Homem, Uma Mulher» («Un Homme et une Femme»), vencedor da Palma de Ouro em 1966. 

A cada ano, desde a sua fundação, em 1939, o Festival de Cannes eterniza não só as tendências estéticas do audiovisual, endossadas com seu palmarés, mas também a cultura gráfica dos cartazes, com posters que marcaram a época. Muitos se reportam a filmes (tipo «Pierrot Le Fou», «Kagemusha», «Amor À Flor Da Pele»), outros celebram entidades (Fellini, Paul Newman). Este ano, pela primeira vez na sua história, o evento francês, que vai até 24 de maio conta com um poster duplo, a celebrar o feminino e o masculino, a partir de uma mesma sequência de um abraço – e que sequência! –, de «Un Homme et une Femme». A produção é um pilar do romantismo pelo mundo fora e vendeu 4.269.209 ingressos só no seu país de origem, na sua estreia, há 59 anos.

O fenómeno de bilheteria de Claude Lelouch, coroado com um par de Óscares (Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Argumento), serve de molde à imagem síntese (uma imagem em dobro, no caso) da maratona cinéfila cannoise de 2025. Essa escolha lança novos holofotes sobre a longa-metragem, que foi idealizada há 60 anos atrás, e sobre a obra do seu realizador.

“Não tenho medo do fim, pois as histórias que eu criei me mantém neste mundo”, disse Lelouch à revista METROPOLIS, em recente entrevista em Paris, no Rendez-vous Avec Le Cinéma Français, um fórum anual de promoção de filmes.

Em 2024, o cineasta lançou «Finalement» [foto], com o já citado Kad Merad, com a ideia de encerrar ali a sua prolífica carreira, iniciada em 1957 com uma série de curtas. A boa recepção ao que deveria ser o seu canto de cisne hoje inspira uma sequência, supracitada.

Em «Un Homme et une Femme», que teve duas sequelas (em 1986 e 2018), Lelouch preferiu ir por um caminho oposto da sociologia inerente à Nouvelle Vague, em voga na década de 1960. Optou por festejar o amar reciprocamente de forma rasgada. Apoiou-se numa trilha sonora de Francis Lai, com menções a Pierre Barouh, Baden Powell e Vinicius de Moraes, que embalou gerações ao som da melodia “chabadabada”. Em cena, seguimos o idílio entre dois viúvos que se esbarram devido ao acaso e apaixonam-se: a argumentista Anne Gauthier e o piloto de corridas Jean-Louis Duroc, vividos por um par de titãs, Anouk Aimée (1932-2024) e Jean-Louis Trintignant (1930-2022).

Há onze anos, Cannes comemorou o cinquentenário desse clássico na sua seção de retrospectivas e, na mesma ocasião, o festival Varilux, projetou a fita no Rio, em São Paulo e mais uma leva de cidades. Na época, Lelouch contou que «Um Homem, Uma Mulher» foi rodado ao custo de 470 mil francos, o que era uma ninharia para sua época.

“Baseado numa paixão idílica, estruturei a longa que mudou a minha vida”, disse Lelouch, que ganhou uma retrospectiva na Mostra de São Paulo de 2007, quando veio ao país, incluindo «Uns e… os Outros» [foto] [«Les uns et les autres» apelidado de «Retratos da Vida» no Brasil] (1981) e «Uma Aventura para Dois» [«À nous deux» batizado de «A Nós Dois» no Brasil] (1979).

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