É bom podermos ver e partilhar o sorriso de Jafar Panahi no pequeno filme da “photo call” [ ©Manon_Boyer/FDC ] do fim da tarde de 24 de maio de 2025 — aconteceu poucos minutos depois de, no palco do Grande Auditório Lumière, ter recebido a Palma de Ouro do 78º Festival de Cannes. Panahi foi alguém que, afinal, ao longo dos últimos quinze anos, em Cannes (e noutros festivais) esteve representado por uma cadeira vazia… proibido que estava pelas autoridades do Irão de viajar para fora do seu país. Não é um sorriso gratuito de triunfo, antes a alegria de alguém que sabe que, mesmo num mundo de tantos e tão trágicos contrastes, o cinema mantém — ou pode manter — uma relação próxima com a dimensão humana e uma cumplicidade inabalável com os valores humanistas. Tudo isto num filme, «Un Simple Accident» (já adquirido para o mercado português), feito a partir de uma sensibilidade única para a gestão dessa relação mágica, misteriosa e imponderável que uma câmara de filmar pode manter com as coisas do mundo. As aventuras do olhar são infinitas.
